13 de novembro de 2023
LUIZ GUILHERME WINTHER DE CASTRO
“Você não pode fazer uma bolsa de seda com uma orelha de porco.” Este provérbio tem parecença com o nosso: Não se tapa o sol com peneira. Cada coisa com cada coisa. Não posso pôr no mesmo nicho o santo e o diabo. Não posso tecer um pano com fios de água. Não posso cozinhar em panela feita de manteiga. Não posso governar uma casa se não me governo a mim mesmo.
Não posso ser político verdadeiro se tenho mania de roubo. Já Jesus ensinou no Sermão da Montanha: Não se dão pérolas a porcos (Mt 7,6). Não se constrói a paz com rifle na mão. Não se faz um açude com areia. A orelha do porco é excelente para a feijoada, mas não serve para ser bolsa de seda.
A seda é boa para revestir uma bolsa, mas não serve para torresmo. – Frei Clarêncio Neotti, OFM – folhinha do dia 14 de novembro de 2023 – do calendário “Sagrado Coração de Jesus”, da Editora Vozes Ltda., de Petrópolis, RJ, cneotti@yahoo.com.br
Na verdade, ao pesquisar este provérbio norte-americano, Frei Clarêncio Neotti, OFM, acaba nos presenteando com uma serie de comparações que poderíamos considerar como “provérbios paralelos”, todos tentando nos dar o mesmo ensinamento.
O provérbio, numa primeira vista, pode nos parecer o óbvio e até algo esdrúxulo, sem nexo, sem sentido, pois quem iria pensar em fazer uma bolsa de seda com uma orelha de porco. Pelo que sabemos, a ciência ainda não pesquisou e nem tentou transformar uma orelha de porco em um tecido como seda.
Todavia, se verificarmos a evolução e conquistas científicas desde os tempos dos homens das cavernas, quem pode garantir que num processo químico futuramente descoberto pelo homem, tal prodígio não venha a ser possível. Pode parecer loucura, sei lá! Quem diria que o homem teria automóveis e máquinas voadoras um dia? Quem diria que teríamos rádio, televisão e cinema um dia? Temos! Muitos outros inventos já existem e não paramos por aí, tudo continua evoluindo.
O que importa, no provérbio, é entendermos que tudo tem sua razão de ser, seu tempo certo, suas finalidades e cada situação no seu lugar, cada coisa com a sua utilidade. A orelha de porco já tem o seu destino certo, portanto, não há como desejar fazer uma bolsa de seda com ela. Para tanto, existe a seda.
Um ensinamento latino nos diz que a natureza não dá saltos. Tudo tem um ordenamento correto. Temos a noite e temos o dia. Temos o sol, que fornece a luz do dia, o calor e temos o frio, temos tempo seco e temos chuva. A natureza, ás vezes, pode nos trair, mas não é sempre.
O próprio Jesus Cristo ensinou que não se dá pérolas aos porcos. A alimentação deles é outra. Enfim, temos de entender que cada material, cada objeto tem a sua finalidade própria. A propósito, estou me lembrando de uma comédia de Carlitos, o genial Charles Chaplin. Numa cena do filme, ele, sem ter o que comer, tenta cozinhar uma sola de sapato (ou botina) para matar a fome. Algo grotesco, mas divertido e é apenas “teatro”, nada verdadeiro.
O que o provérbio e as demais variantes no texto tentam nos ensinar, é que cada coisa tem sua razão de ser, de existir e tem sua finalidade, podendo, mesmo, ter mais de uma finalidade. Não se pode, então, contrariar a natureza e nem forçar situações.
A Terra é um planeta enorme para nós, simples seres humanos, mas diante da constelação, que dizem para nós ser infinita, ela aparece nas demonstrações do universo como um grãozinho de areia diante de outros planetas, estrelas, etc., existentes e já descobertos pelos cientistas. Se o universo é infinito, como nos fazem acreditar, quantos planetas, estrelas, cometas, asteroides, satélites naturais e meteoroides possam ainda existir sem que a nossa ciência tenha descoberto? Quantas galáxias existem no universo?
Portanto, que nos atenhamos ao nosso mundo, ao nosso universo e saibamos que tudo que aqui existe é para o nosso uso, para o nosso bem, para a nossa sobrevivência pacífica e nossa felicidade. Infelizmente, nem todos pensam assim. Por isso que o frei faz todas as comparações com o provérbio e nos adverte sobre uma frase: “Não posso pôr no mesmo nicho o santo e o diabo.” É claro! Jamais haverá entendimento entre eles. “ Um é ser de Deus, o outro é inimigo de Deus. Enfim, cada um no seu lugar, cada coisa com sua utilidade e serventia. Inventar, criar, tudo bem, forçar situações, contrariar a natureza, já é outro assunto, ou seria outro problema?
LUIZ GUILHERME WINTHER DE CASTRO, professor de oratória e de técnica vocal para fala e canto em Carmo do Rio Claro/MG, ex-professor do ensino comercial com reg. no MEC, formado no curso normal superior pela Unipac. E-mail: lgwintherdecastro@gmail.com