13 de março de 2023
LUIZ GUILHERME WINTHER DE CASTRO
“Cura-se a ferida aberta pela espada, mas é incurável a ferida aberta pela língua.” Todos os povos repreendem a língua maldosa e caluniadora. Já o Salmo 51 apontava o dedo para o linguarudo: Tua língua é afiada navalha. Tua língua é perniciosa. Tua língua é pérfida. E o Salmo 56 acrescenta: Tua língua é uma espada afiada. A língua que reza, que canta, que consola, que apanha o alimento, na boca do linguarudo se transforma em espada, em navalha que corta tudo.
Se a espada for de aço, a ferida tem cura. Se a espada for tua língua, feita de carne, suas feridas não têm curativo. Devo, no entanto, reconhecer que há línguas de bondade. A Bíblia fala da língua sábia, que cura (Pr 12,18), da língua sábia, cujas palavras ornamentam o ambiente (Pr 15,2). – Frei Clarêncio Neotti, OFM – folhinha do dia 15 de março de 2023 – do calendário “Sagrado Coração de Jesus”, da Editora Vozes Ltda. cneotti@yahoo.com.br
A cultura árabe é uma das mais antigas da história da humanidade, entre outras culturas, é claro! As civilizações menos antigas ou as mais recentes acabam assimilando o que as culturas mais antigas possuem e assim formam, também, a sua cultura. O provérbio árabe, em destaque no nosso texto, é mais um achado do frei. Curamos as feridas causadas pelo aço, mas as causadas pela língua…
Interessante é fazer uma comparação do poder de destruição que possui a língua, até propagado pela Bíblia e outras culturas mais, como uma arma ferina, terrível, potente e ao mesmo tempo observar o quanto ela é sensível em nossa boca. Quem é que nunca, sem querer, ou por pressa ou descuido, ao mastigar algum alimento, nunca “mordeu” a língua. Mordeu de verdade e a feriu, sentindo a dor causada e o quanto é difícil curar o ferimento. Ela é uma peça mole, macia, dentro de nossa boca, mas extremamente sensível a qualquer “ataque” e difícil de curar.
A expressão “morder a língua”, também é usada quando uma pessoa é desmascarada pelo que disse, pelo que inventou e ficou ruim para ela a descoberta de sua má atitude. Acontece, também, a expressão ser usada, algumas vezes, em tom de brincadeira, quando se trata de assunto inocente, sem maldade. Um exemplo: quando alguém jura que vai chover e nada acontece. O outro, diz, em tom de brincadeira, que o colega precisa morder a língua, pois a sua “profecia” não vingou. Um exemplo infantil, é claro!
No nosso caso aqui, do provérbio árabe e mais a citação da Bíblia pelo nosso frei Clarêncio Neotti, OFM, o assunto é muito mais sério e delicado. A língua é apresentada como uma arma extremamente perigosa, mortal, capaz de causar até uma briga violenta, uma contenda inconsequente, uma revolução armada ou mesmo uma guerra de enormes proporções.
Quantas brigas com ferimentos, quantas mortes, quantas desgraças já foram causadas, a uma ou mais pessoas, por conta de uma língua maldosa, ferina, criminosa, diabólica?! Alguém teria uma estatística disso? No entanto, todas as horas, todos os dias, tomamos conhecimento de verdadeiros crimes provocados por uma discussão às vezes inocente, no início, mas que acaba num desfecho violento. Mesmo quando não acontece um crime, quantas inimizades, separações, ocorrem por conta de uma fofoca, intriga, calúnia, injúria, inveja, ódio e rancor! Algumas vezes, apenas por razões inexplicáveis, questões de gênio ou caráter.
Estou me lembrando, agora, de uma frase de Augusto dos Anjos: “A mão que afaga é a mesma que apedreja.” Não poderíamos fazer uma comparação com a nossa língua? Só que, temos duas mãos, mas uma só língua, que se usada de forma maldosa, criminosa, pode valer por muitas mãos. Pois é, a mesma língua que reza, que canta, que funciona na alimentação, que pode dar conselhos, abençoar, dada a importância que possui na fala, é a mesma que pode causar desgraças, infelicidade, destruição de reputações e toda sorte de maldades.
Quantas vezes, numa discussão, num embate oral, ouvimos alguém dizer para que controlemos a nossa língua. Realmente, saber controlar a língua faz parte da boa educação e do caráter de uma pessoa. É uma arte a serviço do bem!
Não sei se já citei em algum texto aqui, a frase de Monteiro Lobato: “A história da humanidade é uma eterna pirataria”. Mesmo ele generalizando, quanta pirataria foi causada pela língua, hein?!
LUIZ GUILHERME WINTHER DE CASTRO, professor de oratória e de técnica vocal para fala e canto em Carmo do Rio Claro/MG, ex-professor do ensino comercial com reg. no MEC, formado no curso normal superior pela unipac. e-mail: luizguilhermewintherdecastro@hotmail.