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Dia a Dia

As ações vão ocorrer em São José da Barra e Capitólio./ Foto: Arquivo FM.

PAULO ROBERTO CORÓ FERREIRA

Hidrelétrica de Furnas, a Venda e o Zingo

A construção da Usina Hidrelétrica de Furnas teve início em 1958 e a primeira unidade entrou em operação em 1963. A construção dessa usina, uma das maiores da América Latina na época, permitiu que se evitasse o colapso energético no Brasil na década de 60. Seu reservatório, localizado no curso do médio Rio Grande e um dos maiores do Brasil, tem 1.440 km² e 3.500 km de perímetro, banha 34 municípios de Minas Gerais, entre eles o Carmo.

A inundação de áreas férteis trouxe prejuízos para os agricultores e também afetou bastante o comércio dessas 34 cidades.
No Carmo, até a inundação promovida por Furnas, por volta de 1960, trabalhava Vicente Seleiro, que tinha sua selaria onde hoje é a Pizzaria Kafona, da Dora. Ali ganhava a vida e sustentava a família fazendo arreios, bacheiros, cabrestos e outros acessórios para montarias.

Antes de ter sua própria selaria, Vicente trabalhou para Nen Cabral, como empregado. Nen trabalhava na coletoria, era colega de Lucas Ferreira, Lulu, irmão do Tãozinho do Cine Guarani. Mas Nen Cabral, além de boêmio, também era empreendedor e tinha uma selaria sem nada entender disso. E mantinha lá empregados para ter uma renda extra.

Após a inundação esse comércio “fracassou”, como atesta o próprio Vicente. As pessoas andavam muito menos a cavalo, pois as águas impediram o livre trânsito dos animais e dos cavaleiros. Resolveu mudar de ramo e abriu uma venda onde hoje é a Frei Leopoldo na antiga casa de Marica, também irmã de Tãozinho. Depois mudou sua venda para onde até hoje é sua residência. Sua casa fica em frente à casa que pertenceu ao Farid Achcar, pai do Ralê, do Paulo e Marcos Achcar, e é vizinha à casa do Zuzu. Nessas vendas vendia-se de tudo. Desde mantimentos (arroz, feijão, etc, tudo a granel) até ferramentas, panelas, doces, bebidas, cigarros e por aí vai.

Nessa época também era conhecido no Carmo o Zingo, outro boêmio, tocador de bandolim, pedreiro e mais enjoado que cachorro de madame. O Zingo não era muito chegado ao trabalho, bebia muito e gostava duma cachacinha. Conseguia beber várias em muito pouco tempo e, depois de “calibrado”, tornava-se um chato de galocha.

Coincidentemente, no dia em que o Vicente Seleiro estava montando sua venda, colocando os produtos nas prateleiras, separando as mercadorias, anotando preços, enfim, uma confusão danada, sem nenhum espaço no balcão, chega o Zingo para inaugurar e “batizar” a venda. Falou alto, com aquele tom carregado de alguém que já bebeu algumas:
– Vicente, põe uma caprichada aí prá mim.
Ao que Vicente, com a cabeça quente com tantos afazeres, respondeu:
– Ah Zingo, tenha dó. Não vou vender pinga agora. Volte depois.
Mas Zingo insistiu carregadamente:
– Vicente, põe uma pinga aí Vicente.
Vicente vendo que não ia ser fácil se livrar de Zingo, pegou a garrafa, colocou um copo em um dos pratos da balança que ficava em cima do balcão, já que este ainda estava cheio de mercadorias e perguntou ao Zingo:
– Tá bom Zingo, quanto vai de pinga então?
E o Zingo olhou para a balança apertando um dos olhos, olhou para o copo e mandou para o Vicente:
– Ah Vicente, bota aí umas trezentas gramas pra gente ver quanto dá.

PAULO ROBERTO CORÓ FERREIRA é carmelitano, pós-graduado em Ciência da Computação pela UFMG. É autor do livro “Viagem pela Alma Carmelitana”, lançado em 2021, com as histórias de sua terra.

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