Dia a dia

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16 de outubro de 2023

LUIZ GUILHERME WINTHER DE CASTRO

Provérbio tupi

“Quanto maior o rio, menos ruído ele faz.” Quem vive falando de si e de seus feitos é como o riacho barulhento. Não passa de riacho em briga com as pedras, sempre pequeno. Os grandes homens são silenciosos, recatados. Não precisam afirmar por palavras e trombetas sua grandeza. Seus atos falam por ele.

A discrição é uma de suas qualidades, que costuma envolver todas as outras. Os franceses têm um provérbio que nos passa a mesma lição: Não é a vaca que berra mais alto que produz o melhor leite. A Bíblia fala muito de modéstia, que não é uma virtude do pobre conformado, mas daquele que não faz de sua grandeza o assunto principal de sua conversa. Mas convém também lembrar o provérbio judeu: Modéstia em excesso não deixa de ser meia vaidade. – Frei Clarêncio Neotti, OFM – folhinha do dia 19 de outubro de 2023 – do calendário “Sagrado Coração de Jesus”, da Editora Vozes Ltda., de Petrópolis. cneotti@yahoo.com.br

Provérbio Tupi dos nossos indígenas e com muita sabedoria. Frei Clarêncio Neotti, OFM, foi buscar na cultura silvícola brasileira este provérbio que diz uma grande verdade. Quem de nós nunca se deparou com uma ou mais pessoas que podemos classificar como narcisistas, em menor ou maior grau. A palavra tem origem na mitologia grega, é só pesquisar quem foi Narciso.

Um grande rio, geralmente, é silencioso, o barulho da correnteza é fraco, não é espalhafatoso. Quando há no rio uma queda de nível um pouco mais acentuada, até o barulho pode ser um pouco mais forte, mas nada que possa assustar. Quando ele forma uma cachoeira, o barulho é maior. Os riachos, principalmente os que descem de serras, têm leito pedregoso, o encontro da água com as pedras provoca um atrito maior, um barulho acentuado. O provérbio tem como finalidade fazer uma comparação com certos seres humanos, ou seja, pessoas que, como já falamos acima, sofrem de excesso de vaidade, se julgam superiores, menosprezam as outras pessoas,

O frei afirma que os grandes homens são silenciosos, recatados, eles não têm necessidade de sair propagando por palavras, discursos vazios, mentirosos até, as suas qualidades e proezas. Não necessitam alardear com trombetas. O silêncio deles e a qualidade de serem recatados já os fazem reconhecidos, prestigiados e até “venerados” pelo valor que eles têm e pelo conjunto de sua obra para a sociedade. Segundo o frei, por serem discretos, tal qualidade já é suficiente para envolver outras qualidades que eles possuem. São muitas as boas qualidades que um ser humano precisa e deve ter.

O frei cita um provérbio francês que passa para nós a mesma lição do provérbio tupi: “Não é a vaca que berra mais alto que produz o melhor leite.” Este provérbio me faz lembrar, na arte do canto, que o boi, quando berra lá no pasto, percebemos de longe a sua “voz” potente. Todavia, não significa que ele saiba cantar. No caso dos humanos, ter uma voz forte, vigorosa, de nada adiantará se o dono dela não souber cantar. Só servirá para gritar e fazer barulho.

As pessoas soberbas, que se julgam as melhores, tudo delas é perfeito, são pessoas difíceis de relacionamento. Hoje, existem “técnicas”, ou seja, conselhos e dicas para saber se relacionar com elas. Trabalhos de aconselhamentos feitos por especialistas em relacionamento humano, psicólogos, psiquiatras e outros, mostram o perfil dessas pessoas difíceis e como contornar os problemas no trato com elas. Não é nada fácil, porque tais pessoas só enxergam a si próprias, só tem olhos e mente direcionados a elas mesmas, algumas se julgam semideuses, os outros para elas, como já ouvimos dizer, são meros detalhes.

É citada a Bíblia pelo frei, quando está escrito lá que a modéstia não é virtude de pobre conformado com sua situação, mas é qualidade de quem, mesmo sabendo ter alguma importância e valor na sociedade, não se utiliza disso para se envaidecer e parecer melhor que os outros.

Não se vangloria em suas conversas. Ainda é lembrado o provérbio judeu: “Modéstia em excesso não deixa de ser meia vaidade.” Nós diríamos: “Nem muito ao mar e nem tanto à terra.” Moderação, equilíbrio, pés no chão, saber se valorizar sem menosprezar os outros, é o caminho que julgamos o mais correto. Acredito, posso estar enganado, que um pouquinho, só um pouquinho de narcisismo, todos temos. Nada de exagero, é preciso sabedoria e inteligência e saber reconhecer o valor dos outros.

LUIZ GUILHERME WINTHER DE CASTRO, professor de oratória e de técnica vocal para fala e canto em Carmo do Rio Claro/MG, ex-professor do ensino comercial com reg. no MEC, formado no curso normal superior pela Unipac. E-mail: lgwintherdecastro@gmail.com