Dia a dia

Dia a Dia

25 de setembro de 2023

LUIZ GUILHERME WINTHER DE CASTRO

Provérbio turco

“Quando o machado entrou na floresta, as árvores disseram: o cabo é dos nossos.” Dói mais a traição dos amigos. Experimentou-a Jesus quando Judas, seu apóstolo, o traiu com um beijo. A traição de um amigo se parece a lançada do soldado no peito de Jesus. Quando precisamos de favor de uma entidade superior, procuramos saber se lá trabalha um conhecido.

Ganhamos confiança, se podemos pedir sua ajuda a chegar à autoridade. O amigo é um dos nossos. Como o cabo do machado feito de lenho. É grande nossa decepção quando aquele que é dos nossos não só não nos ajuda, mas fica a serviço de quem nos corta e nos destrói.

Do nosso coração brota espontânea a frase angustiada de Jesus: Melhor teria sido se esse amigo jamais tivesse nascido (Mt 26,24). – Frei Clarêncio Neotti, OFM – folhinha do dia 21 de setembro de 2023 – do calendário “Sagrado Coração de Jesus”, da Editora Vozes Ltda., de Petrópolis. cneotti@yahoo.com.br

Um provérbio do povo turco, um povo milenar, de grandes tradições e muito sábio. Colhido pelo frei, é muito interessante e sugestivo tal provérbio. O cabo do machado é feito de madeira. De onde veio tal madeira? De uma árvore que um dia foi derrubada pelo homem para que tivesse inúmeras utilidades.

Uma delas, ser usada para confeccionar o cabo para sustentar o machado. O machado que será usado para cortar madeira e derrubar outras árvores. Quando as árvores disseram que o cabo é dos nossos, elas estariam expressando alguma alegria? Eu acredito que não! Acredito que elas estariam demonstrando que o cabo do machado que um dia foi dos nossos, hoje estaria contra nós.

Ele veio para nos derrubar, para tirar a nossa vida, enfim, veio para nos trair, ele se voltou contra nós. É claro que não podemos jogar a culpa em cima do cabo do machado, a culpa realmente é do homem. O que o ditado quer demonstrar, para nós humanos, é o quanto dói uma traição, principalmente se ela parte de um dos nossos.

Tal ditado seria uma figura de linguagem conhecida como alegoria? O frei nos exemplifica lembrando a traição sofrida por Jesus Cristo, quando Judas Iscariotes, com um beijo na face do nosso Salvador, o traiu, entregando-o para os soldados. O frei lembra, também, a lança cravada no peito de Jesus Cristo quando Ele estava pregado na cruz e já tinha falecido.

Como vivemos em sociedade, estamos sujeitos às leis de boa convivência, às leis sociais e governamentais, estamos sempre dependendo uns dos outros, com necessidades várias e não é raro termos de procurar por um conhecido ou amigo para resolvermos situações de nossa vida. Algumas, às vezes, até urgentes.

É exatamente nesse momento que tentamos nos lembrar de alguém que possa nos ajudar, seja indicando os caminhos ou mesmo nos levando até onde precisamos chegar. Eu me refiro a casos honestos, sérios e não situações nebulosas, contrárias à lei ou aos bons costumes. É aí que essa pessoa poderá nos ajudar.

Qual será, então, a nossa decepção, se a pessoa procurada nos virar as costas. Nós sabemos que as pessoas têm limitações, podem nos ajudar até certo ponto, dali em diante, muitas vezes não depende mais delas. Até aí, tudo bem! Pior, é quando a pessoa em quem confiamos, além de não nos ajudar, ainda, mesmo que disfarçadamente, nos ignora, nos despreza, inventa desculpas nada convincentes e não vê a hora de se livrar de nós. E mais agravante, ainda, quando descobrimos que fomos traídos. Traídos por alguém em quem confiamos e, às vezes, até alguém que um dia precisou de nós e nós ajudamos. Não é raro acontecer tal situação.

Enfim, cada situação é um caso à parte e só pode ser analisado e constatado após total conhecimento dos fatos. Na nossa vida social, no nosso trabalho, até mesmo entre familiares, casos de traição acontecem e com certa frequência. O ser humano é dotado de boas qualidades, mas também de defeitos. Inveja, cobiça, ambição desmedida, ganância desenfreada, desejos de prejudicar, histórico de mentiras, afetam muitas pessoas, principalmente, aquelas cuja formação moral não foi bem orientada.

Isso tudo, sem levar em conta a natureza de cada ser humano. Aí, já deixo para os psiquiatras, psicólogos e outros as explicações plausíveis, pois entendem muito mais. Penetrar na alma, na mente, no coração de uma pessoa é trabalho para profissionais experientes, sinceros, honestos e com espírito humanitário.

LUIZ GUILHERME WINTHER DE CASTRO, professor de oratória e de técnica vocal para fala e canto em Carmo do Rio Claro/MG, ex-professor do ensino comercial com reg. no MEC, formado no curso normal superior pela Unipac. E-mail: lgwintherdecastro@gmail.com