DÉCIO MARTINS CANÇADO
Educação da geração atual
Que o mundo mudou muito e continua em processo de transformação, rapidamente, acredito que todos nós sabemos, mas nem todos param um pouco para refletir sobre o assunto, analisar seus efeitos e o que se pode fazer, ainda, para que nossas crianças e jovens possam ser equilibrados, conscientes e sábios. Em se tratando de “Educação”, não se pode brincar nem relegar ao segundo plano, ou ignorar o assunto sem um enfrentamento sério, firme e urgente.
“Pais atormentados pela culpa, por trabalharem demais ou por serem ausentes, estão criando filhos ‘narcisistas’, a chamada ‘geração N’ – (Narciso é um personagem da mitologia grega, famoso por sua beleza. Seu egoísmo provocou o castigo dos deuses. Ao observar o reflexo de seu rosto nas águas de uma fonte, apaixonou-se pela própria imagem e ficou contemplando-a, até consumir-se. Na psiquiatria, e particularmente na psicanálise, o termo ‘narcisismo’ designa a condição mórbida de quem tem interesse ‘exagerado’ por si mesmo).
Ao temerem a perda do amor dos filhos, os pais são incapazes de lhes impor limites e cedem aos caprichos infanto-juvenis sem ponderações. Numa espécie de compensação pela presumida ausência, atendem a todo e qualquer pedido dos filhos e exageram em conceder-lhes presentes e elogios. Jamais os repreendem e só lhes dão estímulos positivos.
Em consequência, as crianças não toleram a frustração de um desejo negado. Daí, tornam-se egocêntricas, acham que são merecedoras de tudo e não se esforçam para conseguir as coisas. Também não sabem como agir em situações adversas, e são incapazes de respeitar os outros”. (Luiz Fernando Sangenis)
Há, também, os pais que cobram em demasia, exigem demais dos filhos, impedindo-os de serem crianças no seu devido tempo. “Hoje em dia, a pressão para extrair o máximo de nossas crianças parece mais radical. Queremos que tenham o melhor de tudo e que sejam as melhores em tudo. Queremos que sejam artistas, acadêmicos e atletas – e que deslizem pela vida sem privações, dores ou fracassos. Em sua forma mais extrema, essa marca registrada de educação tem nomes diferentes.
“Educação de helicóptero” – porque Mamãe e Papai estão sempre pairando acima da cabeça dos filhos. “Pais varredores”, que vão freneticamente varrendo os empecilhos à frente de seus filhos. No Japão, ‘mães educativas’ devotam todos os segundos em que não estão dormindo a monitorar suas crianças por meio do sistema escolar. A prova histórica sugere que as crianças crescem mais saudavelmente em sociedades que lhes permitem alguns anos para obterem suas próprias experiências e, até mesmo, saírem dos trilhos.
Convencidos de que a juventude é desperdiçada pelos jovens, os pais “arregaçam as mangas” e se dispõem a mostrar-lhes como tudo deve ser feito – ou como desejariam ter feito em seu tempo. Por isso, cada cultura e cada geração têm reimaginado a infância, para adaptá-la às suas próprias necessidades e preconceitos.
Na antiguidade, os ‘espartanos’ exaltavam a criança guerreira. Os ‘romanos’ encorajavam o valor pessoal nos jovens. Os ‘puritanos’ sonhavam com filhos pios e obedientes. Os ‘vitorianos’ louvavam as crianças esforçadas e trabalhadoras dos bairros miseráveis, ao mesmo tempo que sentimentalizavam as inocentes crianças de classe média que ficavam em casa.
Está comprovado que os bebês só aprendem uma língua quando ela é falada para eles, regularmente, por uma pessoa real. Os bebês precisam de uma conexão humana, transmitida por alguém de sua convivência – e não de um estímulo artificial, como aparelhos de áudio. Para tornarem-se bilíngues, precisam ser expostas a uma língua estrangeira pelo menos 30% das horas que passam acordadas. Se o cérebro de um bebê é inundado com hormônios do estresse, como a adrenalina e a cortisona, a mudança química pode tornar-se permanente, dificultando a aprendizagem, ou o controle da agressividade, aumentando a chance de depressão.
Todas as crianças se desenvolvem com a interação interpessoal, por meio de contato visual, por isso quando os adultos assumem o ‘aspecto exterior’ da infância, a esfera de ação para a revolta se estreita. Quando o papai ouve música de jovens, no mais alto som, e a mamãe age como uma adolescente, só há duas soluções para o filho: Procurar uma forma mais extrema de revolta, como as drogas, um distúrbio alimentar ou a autoflagelação; ou não se rebelar – o jovem se ‘conforma’, adapta-se ao papel de Criança Gerenciada, torna-se mais um tijolo na parede”. (livro ‘do Sob Pressão’ – Carl Honoré)