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Dia a Dia

MERALDO ZISMAN

Será pecado viver muito?

— Qual é o seu plano?
Questiona a atendente de um consultório médico ao agendar uma consulta. Ou o cliente pergunta:
— O doutor aceita qual plano?
Muitas vezes, a resposta é firme:
— Não aceitamos planos, atendemos apenas particular.

Cuidar dos pais idosos enquanto também se responsabiliza pelos filhos é, sem dúvida, uma tarefa desafiadora e exigente. Esse contexto, conhecido como “sanduíche geracional” ou “dupla responsabilidade”, surge quando pessoas de meia-idade se encontram no centro de duas gerações necessitando de cuidados dos pais idosos.

Há diversas razões pelas quais essa situação é considerada uma carga excessiva, sem falar de planos, seguros ou similares que sempre penalizam os idosos. Assumir a responsabilidade, tanto pelos pais idosos, como pelos filhos gerados, ao mesmo tempo, demanda recursos financeiros que nem sempre estão à disposição da família.

Os custos relacionados a tratamentos médicos, medicamentos e assistência domiciliar têm o potencial de se acumular rapidamente, gerando preocupações financeiras, psicológicas e sociais significativas em ambas as gerações. Esse peso é ainda mais exacerbado quando os pais se tornam dependentes, seja parcial ou totalmente. Nesse contexto, priorizar a própria saúde emerge como uma estratégia fundamental para enfrentar os desafios inerentes aos cuidados e responsabilidades para com os genitores, quando vulneráveis.

Entendo que cuidar de um idoso pode ser desgastante tanto física quanto emocionalmente, e insisto: preservar a própria saúde física e emocional é essencial para proporcionar cuidados de melhor qualidade. Lembre-se sempre de que o papel de cuidador é valioso, mas também desafiador.

Portanto, priorizar o seu bem-estar permitirá oferecer o melhor suporte possível aos seus pais idosos, mantendo um equilíbrio saudável entre as suas próprias necessidades e responsabilidades e aquelas dos idosos. É evidente que deve pesar muito cuidar de pais idosos, concomitantemente com os filhos, sejam pequenos, adolescentes ou jovens. Afirmo que o aumento exagerado nos preços dos planos de saúde, torna crítica a intensidade do ageísmo. Esse termo, mais conhecido como discriminação etária, procura definir os que vivem por maior tempo.

O Talmude judaico (coletânea de livros sagrados dos judeus) afirma: — Há três tipos de pessoas cuja vida não merece esse nome: as de coração mole, as de coração duro e as de coração pesado e eu acrescento, aquelas que dependem dos filhos, economicamente.

A jornalista Anne Karpf, autora do livro “Como Envelhecer”, que discute a gerontofobia na História mundial, observa que na Sardenha, ilha do Mar Mediterrâneo, os idosos eram empurrados dos desfiladeiros e os velhos mortos serviam de alimento para os adultos. Ela aconselha: “A falta de contato entre pessoas jovens e idosas não apenas faz os jovens acreditarem que nunca envelhecerão, mas também trata as pessoas idosas como se nunca tivessem sido jovens”.

Isso não afeta os Planos de Saúde, que são contratos entre indivíduos e empresas ou operadoras privadas de saúde. Mensalidades são pagas para obter acesso a serviços médicos e hospitalares, como consultas, exames e internações. E quanto mais velho, mais caro… será castigo o fato de viver muito?
Perguntar não é pecado, disto tenho certeza.

MERALDO ZISMAN – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Alvaro Ferraz.

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