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Dia a Dia

DÉCIO MARTINS CANÇADO

Preconceitos

Comecemos pela reflexão sobre o título deste artigo, que inicia por PRE, significando ‘antes’, ‘anterior’. Assim temos: preocupação: ocupar-se antes do tempo; previsão: o que se vê antes do tempo; prematuro: que nasce antes do previsto, e, preconceito: conceito que se forma antes do conhecimento.

É muito comum, na vida de todos nós, o fato de uma pessoa fazer prejulgamentos a respeito de alguém ou de algo que tenha acontecido, sem se inteirar da verdade dos fatos, das circunstâncias em que aconteceu. Quantas vezes verificamos, ao final, que tudo não passou de um grande mal-entendido.

Quando ainda estava na faculdade, a professora de Português propôs uma dinâmica, bastante conhecida nos meios acadêmicos, popularmente chamada de “telefone sem fio”. Trata-se do seguinte: Em um grupo de pessoas, uma delas se dirige à outra e faz uma breve narração, sem que o restante ouça.

A que ouviu passa para uma segunda pessoa, e assim por diante. O que se constata, invariavelmente, é que no final do processo, o que foi narrado inicialmente à primeira pessoa chega à última totalmente distorcido, tanto no conteúdo quanto na forma.

Certa vez, um amigo me procurou para fazer uma queixa de outra pessoa, que passou por ele e não o cumprimentou. Na sua visão, o outro teria tido uma conduta esnobe, de menosprezo, injustificável pela amizade que tinham um pelo outro.

Depois de alguns dias, ao se encontrarem, meu amigo comentou o fato com o outro, repreendendo-o por sua atitude, e o mal entendido pode ser explicado: Ele estava muito preocupado e concentrado na solução de um problema pessoal e nem se deu conta de quem havia passado por ele, razão pela qual não o havia cumprimentado, o que terminou numa sonora gargalhada, após desfeita a confusão.

Acredito que muitos dos leitores tenham passado por alguma situação semelhante em determinado momento de suas vidas. Também, nesta oportunidade, quero lembrar um antigo ditado para nossa reflexão: “Prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”.

“A mudança de opinião, a abertura para novas possibilidades, as parcerias são instrumentos antigos dos vencedores. Quem não muda, não abre a mente, não limpa a sua vidraça, vai continuar sozinho, e o isolamento tem um preço alto. Por isso, os radicais de esquerda e de direita sempre ficam pelas beiradas. Viva o equilíbrio, viva o bom senso! A divergência estimula a criar, a melhorar, avançar, a buscar novidades, ser humilde e agregar mais valores. Deveria ser assim na política”.

Por fim, uma fábula que também ilustra, com muita propriedade, as ocorrências do nosso dia a dia: “Havia, numa aldeia, um velho muito pobre que possuía um lindo cavalo branco. Numa manhã, ele descobriu que o cavalo não estava na cocheira.

Os amigos disseram ao velho: – Mas que infortúnio, seu cavalo foi roubado! E ele respondeu: – Calma, não cheguem a conclusões apressadas. Simplesmente digam que o cavalo não está mais na cocheira, porque o resto é julgamento de vocês. As pessoas riram do velho. Quinze dias depois, de repente, o cavalo voltou.

Ele havia fugido para a floresta. E não apenas isso; trouxera uma dúzia de cavalos selvagens consigo. Novamente as pessoas se reuniram e disseram: – Velho, você tinha razão. Não era mesmo um prejuízo, e sim, uma bênção. E ele disse: – Vocês estão se precipitando de novo. Quem pode dizer se isso é bom ou ruim? Apenas digam que o cavalo está de volta… O ancião tinha um único filho que começou a treinar os cavalos selvagens.

Uma semana depois, ele caiu de um dos cavalos e fraturou as pernas. As pessoas se reuniram e, mais uma vez, puseram-se a julgar: – E não é que o senhor tinha razão? Foi uma tragédia seu único filho perder o uso das duas pernas. E o velho disse: – Mas vocês são obcecados por julgamentos, hein? Não se adiantem tanto.

Digam apenas que meu filho fraturou as pernas. Ninguém sabe ainda se isso é uma tragédia ou uma bênção…
Aconteceu que, depois de algumas semanas, o país entrou em guerra e todos os jovens da aldeia foram obrigados a se alistar, menos o filho do velho. E os que foram pra guerra, morreram…

Quem é obcecado por julgar, cai sempre na armadilha de basear seu julgamento em pequenos fragmentos de informação, o que o levará a conclusões precipitadas. Nunca encerre uma questão de forma definitiva, pois quando um caminho termina, outro começa; quando uma porta se fecha, outra se abre…”

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