26 de agosto de 2023
SILVIA HELENA REIS
Os dias passam e Biju só tem um desejo: encontrar alguém que a leve para casa, que a ame e não a esqueça num canto qualquer. Mas os dias vão passando e ela sempre à espera.
Julho já chegou e seu coração se enche de alegria, pois é tempo de conhecer novos amigos. Os preparativos estão a todo vapor e a esperança de encontrar sua grande amiga (o) se renova.
Uma alegria, misturada com esperança, excitação e temor enchem seu pensamento e seu coraçãozinho. Afinal ela espera há muito por alguém especial.
Julho já se despedindo do frio, das luvas, dos cachecóis e dos casacos lhe traz esperança de encontrar alguém que a reconheça em meio a tantas outras. Sua mãezinha também está aflita pois ela sabe do desejo da filha. Então procura colocá-la bem apresentável aos olhos de todos.
As arrumações se aprimoram e tudo cria vida na praça. A fonte jorra águas coloridas que respingam no rosto dos que dela se aproximam.
Biju tem vontade de mergulhar naquele colorido e na alegria das crianças que correm felizes ao encontro de suas mamães.
Observa que os preparativos da festa já estão se findando. Muitas luzes, sons, cores e silêncios ligados em todos os corações.
É uma festa grandiosa.
Muitos cuidam para que nada perca seu brilho e sua beleza. Jovens carregam caixas e fios. Homens fortes erguem grandes grades e aparelhos luminosos. Testam os sons, as luzes e com todo cuidado armam um enorme palco.
Ela às vezes se assusta com o barulho das grades que caem. Seu coraçãozinho salta no peito. Mas a noite chega e ela pode contemplar o silêncio da praça.
Agora pode conversar baixinho com os respingos da fonte, os grilinhos assustados com os movimentos do dia, os animais que habitam a praça: cãezinhos órfãos e indefesos, pombinhas que arrulham sonolentas, tatuzinhos miúdos e invisíveis aos homens que passam pisando em seus companheiros desavisados.
O dia novamente amanhece e o palco está quase pronto. Biju nota que uma grande placa é colocada e nela se lê: “FliPassos 2023”.
As tendas já estão armadas e são arrumadas com muito carinho e zelo. Ela finalmente será mostrada para muitas crianças e assim encontrar aquela que queira levá-la para casa. No dia da inauguração da Feira muitos convidados, muita música e muita gente bonita. Crianças com seus pais. Jovens alegres, divertidos, inteligentes e observadores passeiam os olhos aos redores admirando todas as novidades.
Logo mais começam a chegar os escritores. Biju sente o coração pular em seu peito. Tudo que ela mais queria. Seus olhos não perdem um só movimento. Ela foi criada por uma escritora. Que emoção! Cada um com seu sorriso largo e muita vontade de que aquela noite não termine nunca.
Depois das apresentações e vivas os convidados vão visitar as tendas onde estão os livros. Muitas crianças seguram as mãos de pais eufóricos e aflitos. Pegam livros de todo tipo e toda cor. Olham, riem e colocam nas mãos de seus pais. Jovens procuram revistas e livros coloridos. Homens sisudos procuram seus preferidos entre tantos. Mulheres balançam seus cabelos modelados, sorriem colorido e folheiam todos os tipos encontrados escolhendo muitos aos seus gostos.
A noite termina e Biju deixa cair uma lágrima sentida. Uma boneca de um livro da tenda ao seu lado lhe pergunta porque está triste depois de uma festa tão linda e Biju responde que nenhuma menina a escolheu. A boneca lhe diz para ter calma. Ainda resta um dia de feira e pode ser que sua leitora finalmente apareça.
Biju olha para ela e já tonta de sono deita-se sobre outro livro e dorme.
Acorda, no outro dia, com conversas ao seu lado. E vê que alguém olha para ela com alegria. Mas não é uma criança. É um homem que devagar a folheia e diz: “Que linda!”. Vou levar.
Biju fica um pouco desapontada. Ela na verdade queria uma menina. Já ia chorar novamente, mas o homem disse: “Minha netinha vai adorar, ela ama cachorrinhas!”
SILVIA HELENA DOS REIS, escritora e contadora de histórias. Membro da Academia Feminina Sul-Mineira de Letras e da Associação Cultural dos Escritores de Passos e Região, cujos associados se revezam na autoria de textos desta coluna aos sábados