22 de agosto de 2023
DÉCIO MARTINS CANÇADO
Está cada vez comum as pessoas relativizarem suas atitudes, levando em conta o hedonismo (a busca do prazer) a qualquer custo, o imediatismo, o consumismo e o oportunismo. A inconsequência leva as pessoas a agirem primeiro e pensarem depois, arrependendo-se, na maioria das vezes, de alguma atitude tomada, ou palavra proferida em momentos inoportunos, que acabam ferindo alguém a quem se ama ou se deve respeito.
Todos nós conhecemos aquela velha situação quando o pai diz ao filho, ainda criança, que atendeu ao telefone, para dizer a quem está do outro lado da linha que ele não se encontra em casa, e a criança é obrigada a mentir; ou ainda quando aquele pai diz ao filho, na maior desfaçatez, que ele deve aprender a ser ‘esperto’, a furar a fila, a enganar o coleguinha quando estão trocando figurinhas, a falar para a professora que não estudou, porque estava doente, quando na verdade a família foi passar o fim de semana no sítio de um amigo.
Essas e outras situações, bastante conhecidas, vão forjando a personalidade e o caráter daquelas crianças que, no futuro, agirão de acordo com aqueles exemplos que receberam, terão como valores em suas vidas aquilo que aprenderam de seus pais, primeiros e principais educadores e formadores.
“Sabemos que a nossa maneira de pensar e agir conduz nossa vida e nos guia para o futuro. Mas será que, na correria do dia a dia, percebemos que nossas atitudes construirão a família que idealizamos, a família dos próximos anos?
Uma revista de grande circulação realizou uma pesquisa pela internet em que mais de mil brasileiros responderam questões que envolvem temas polêmicos, mas indispensáveis, quando o intuito é conquistar pistas sobre os reais valores familiares do século 21.
As situações colocadas na pesquisa envolvem violência urbana, pirataria, consumo de medicamentos irregulares, pagamentos sem recibo, invasão de privacidade, pais que permitem que o filho adolescente durma na casa da namorada (ou vice versa), compra de mercadorias roubadas, mandar familiares idosos para asilos, dirigir com menos de 18 anos e escolha do sexo do filho através de fertilização ‘in vitro’.
Mais de 52% das pessoas aceitam a pirataria, 43,5% admitem a escolha do sexo do bebê e 26,7% consideram normal que seus filhos durmam com seu par dentro de casa. Esse resultado vai contra os valores cristãos de famílias tradicionais ou conservadoras, que acreditam, ainda, que o mundo pode ser melhor desde que se busque, sem trégua, um agir pautado na ética e na honestidade, no amor existente entre o casal, que juntos, formam os valores da família.
A experiência humana do amor é a mais importante e emocionante da vida, mas também é aquela na qual mais facilmente se encontram os desencantos e as desilusões.
Se os pais querem que seus filhos tenham uma experiência de amor verdadeira e duradoura, é melhor que eles vivam um relacionamento de namoro adequado ao momento de maturidade em que se encontram. O relacionamento não pode se restringir à emoção de uma intimidade física, pois esta não dá sustentação a 20, 30 ou 40 anos de convivência entre um homem e uma mulher.
Outro fato que ajuda a entender o resultado da pesquisa é o famoso ‘jeitinho brasileiro’ e a mentalidade de que neste mundo só se dá bem quem for ‘esperto’. Os pais acabam assimilando essa ideia e a transmitem aos filhos. “Eles acreditam que estão criando pessoas espertas, quando na verdade, trata-se de pessoas com deformações de caráter. Mais tarde se tornarão médicos, juízes, advogados e políticos nada confiáveis, pois sempre colocarão em primeiro lugar o próprio interesse, sempre vão querer levar vantagem”, afirma Dom Petrini, bispo auxiliar de Salvador (BA).
Mas, afinal, que valores os pais que toleram atos antiéticos e, até criminosos, vão passar para seus filhos? Não basta pagar uma boa escola e suprir as necessidades de saúde e lazer às crianças; é preciso dedicar tempo para o convívio em família. É durante essa convivência que os pais transmitirão os valores que dão significado a toda a luta cotidiana de cada um.
Quem ensinar o que é certo e o que é errado, e educar as crianças de forma que elas desenvolvam seu senso crítico, tem grandes chances de manter uma família sólida e rica de valores humanos. “Já os que optarem por seguir os modismos e não souberem discernir sobre os valores que devem ser acolhidos e os que devem ser rejeitados, continuarão sendo conduzidos a serem servidores do poder e do lucro dos outros”, finaliza Dom Petrini.