DÉCIO MARTINS CANÇADO
Sexo e sexualidade
Sexualidade é um termo abrangente, que engloba inúmeros fatores e, nem sempre, encaixa-se em uma definição única e absoluta. Por outro lado, sexo é algo definido geneticamente, desde a fecundação, na grande maioria dos seres vivos. Muitas vezes, confunde-se o conceito de sexualidade com o do sexo propriamente dito. É importante salientar que um não necessariamente precisa vir acompanhado do outro.
Existem diversas abordagens do tema que variam de acordo com concepções e crenças convenientes a cada um. Em alguns lugares, podem-se encontrar visões preconceituosas sobre o assunto. Em outros, é discutido de forma livre e com grande aceitação de diferentes olhares ao redor do termo. Algumas vertentes da Psicologia consideram a existência de sexualidade na criança já quando nasce. Propõem a passagem por fases (oral, anal, fálica), que contribuem ou definem a constituição da sexualidade adulta.
A OMS define que a “sexualidade faz parte da personalidade de cada um, sendo uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado de outros da vida. Ela influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e, portanto, a saúde física e mental”.
De maneira geral, somos todos analfabetos sexuais. Para você, sexo é bom? É ruim? É feio? Bonito? Sujo? Qual a importância do sexo em sua vida? O seu comportamento vai depender sempre das suas convicções: se você tem medo ou aversão ao sexo, vai evitá-lo; se acha que é bom, vai tentar preencher essa necessidade, que é normal em todo ser humano.
Só com a educação sexual, desde criança, poderemos ter, no futuro, uma geração preparada para lidar bem com o assunto. Mas, afinal, um tema tão próximo de nós, tão real, que faz parte da vida, por que não é tratado com a devida seriedade e serenidade que carece e merece?
No Livro do Gênesis, versículo 31 do primeiro capítulo, podemos ler: “E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo era MUITO BOM.” Se Deus nos fez Homem e Mulher, Ele abençoa o sexo; Ele quis que houvesse atração entre ambos e que isso ocorresse com prazer. A questão é que, enquanto os animais agem por instinto e utilizam o ato sexual apenas para a procriação, os humanos têm a liberdade de escolha, têm o dever de serem responsáveis pelos seus atos, têm os sentimentos que os envolve.
O masculino e o feminino, o macho e a fêmea, o desejo sexual, são coisas boas, tão naturais quanto alimentar-se ou qualquer outra atividade vital. Se assim o é, então, por que tanto mistério, polêmica e tanto desencontro a respeito desse tema? Como criar uma linguagem universal para esclarecer sobre um assunto tão presente na vida de cada um de nós?
Não se pode começar um programa de educação sexual sem contar com o apoio da maioria dos segmentos representativos da sociedade. Temos que trabalhar em duas gerações ao mesmo tempo e isso demanda critérios que passam, inevitavelmente, pelo conhecimento científico, época em que vivemos, religião e pelas tradições. São anos e anos de conceitos estabelecidos que condicionam as pessoas, desde pequenas, a considerar o sexo como algo ‘ruim’.
O que se tem percebido é que, muitas vezes, os próprios médicos estão despreparados para atender as dúvidas de seus pacientes. Nossos psicólogos, às vezes, saem da faculdade sem uma noção segura da sexualidade e a Faculdade de Pedagogia nem sempre dá o necessário esclarecimento sobre a sexualidade humana. Como se pudéssemos dissociar os aspectos sexuais da formação humana.
As pesquisas demonstram que as dúvidas sobre sexo são muito semelhantes, não importa o grau de desenvolvimento ou posição geográfica. Meninas têm dúvida sobre menstruação; meninos se questionam sobre a gravidez. As questões, geralmente, são idênticas, variando o contexto sociocultural onde a pessoa está inserida.
Há o caso de uma moça que engravidara mesmo tomando pílula anticoncepcional e, quando a médica perguntou como ela tomava as pílulas, respondeu: “Sempre que vou ter relações sexuais. Se tenho duas numa semana, tomo duas pílulas”. Eis um fato que explica e demonstra a necessidade urgente que nossos jovens têm de informação, além dos adultos, que levam a vida carregando consigo mil questões insolúveis, gerando ansiedade e outros males psíquicos.
O sexo deve responder às necessidades exigidas pela psicologia e natureza humana: a sexualidade, o erotismo, o contato amoroso, o carinho, que existem à medida que duas pessoas se encontram e passam a se conhecer e a se relacionar, numa convivência sadia e madura, respeitando-se mutuamente, em busca da felicidade recíproca e duradoura.
Mas isso já é conhecido por amor, que vem a ser a mais profunda, universal e significativa experiência humana. O amor humano é espelho, sacramento e manifestação do próprio Deus, que se torna Presente na pessoa dos seres humanos que se amam.