CARLOS J. F. LOPES
“O poder do celular: uma reflexão”
Em minha jornada como psicólogo, já vi e ouvi de tudo e mais um pouco, e nos últimos tempos tenho escutado muito sobre tecnologia, inteligência artificial, realidade aumentada, veículos autônomos, drones, impressão 3D, energia renovável e um termo que não conhecia, “internet das coisas”, o que, segundo especialistas, seria um conceito que se refere à conexão de dispositivos eletrônicos à internet, permitindo que eles coletem e compartilhem dados entre si.
A internet das coisas inclui desde objetos simples, como eletrodomésticos e lâmpadas, até dispositivos mais complexos, como carros autônomos e prédios inteligentes. O intuito é melhorar a eficiência, a segurança e a qualidade de vida das pessoas. Será?
Um paciente em certa ocasião me perguntou se eu sabia qual era a coisa mais poderosa que os seres humanos haviam inventado até hoje.
Pensei em várias coisas, eletricidade, bomba atômica, energia nuclear, computador, internet, etc. Ele me olhou com desdenho e respondeu: “você está errado, o mais poderoso é o celular!” E continuou: “ele matou a TV, matou o computador, matou o relógio, matou a câmera, matou o rádio, matou a lanterna, matou o espelho, matou o jornal, matou o videogame, matou a carteira, matou o calendário de mesa, matou o cartão do banco… e também vai matar seus olhos, sua coluna cervical, até mesmo matar sua saúde, matar seu casamento, matar sua família, matar seus amigos, seus costumes, sua cultura e matar a próxima geração”.
Fiquei assustado no momento com aquelas palavras, e ao chegar em casa no fim do dia parei para refletir sobre o ocorrido.
Há 50 anos, a vida e os costumes eram muito diferentes do que experimentamos hoje em dia. Naquela época, a tecnologia era limitada e não desempenhava um papel tão central em nossas vidas como faz atualmente.
Vamos explorar como era a vida e o que estamos perdendo para a tecnologia e inovação nos dias de hoje.
Há meio século, as pessoas dependiam muito mais de interações pessoais para se comunicar. As cartas escritas à mão eram uma forma comum de correspondência, permitindo que as pessoas expressassem seus pensamentos e sentimentos de maneira mais profunda e pessoal. Hoje em dia, embora a comunicação seja instantânea, muitas vezes parece superficial e menos significativa.
Além disso, as relações interpessoais eram mais valorizadas. As pessoas passavam mais tempo juntas, conversando, compartilhando histórias e experiências. Era comum visitar amigos e familiares regularmente, desfrutando da companhia uns dos outros. Hoje, muitas vezes nos encontramos imersos em nossos dispositivos eletrônicos, perdendo a conexão humana genuína que antes era tão valorizada.
A tecnologia também impactou nossa forma de entretenimento. Há 50 anos, as pessoas tinham menos opções de entretenimento em casa, o que as incentivava a sair mais e aproveitar atividades ao ar livre. Jogos de tabuleiro eram populares, assim como passeios no parque e idas ao cinema. Hoje em dia, com a proliferação dos dispositivos eletrônicos e do streaming online, passamos mais tempo em casa consumindo conteúdo digitalmente, o que pode nos isolar do mundo real.
A inteligência artificial e a automação também estão mudando a forma como trabalhamos. Antes, as tarefas eram realizadas manualmente e exigiam mais esforço físico. As pessoas interagiam mais com colegas de trabalho e clientes, criando relacionamentos e conexões significativas. Com o avanço da tecnologia, muitas tarefas foram automatizadas, reduzindo a necessidade de interações humanas. Embora isso possa aumentar a eficiência, também pode levar à perda de empregos e à diminuição da sensação de propósito no trabalho.
No campo financeiro, as criptomoedas têm ganhado destaque nos últimos anos. Embora ofereçam benefícios em termos de segurança e transações rápidas, também podem trazer desafios. A dependência cada vez maior dessas moedas digitais pode levar à exclusão financeira para aqueles que não têm acesso ou conhecimento suficiente sobre elas. Além disso, há preocupações sobre a privacidade e a segurança dos dados financeiros em um mundo cada vez mais digital.
Apesar dos avanços tecnológicos trazerem muitos benefícios, é importante lembrar das coisas que estamos perdendo ao longo do caminho. A conexão humana genuína, a valorização das relações pessoais e o equilíbrio entre o mundo digital e real são aspectos que merecem ser preservados.
Cabe a nós encontrar um equilíbrio saudável entre a tecnologia e as interações humanas. Aproveitar os benefícios da inovação sem perder de vista o que realmente importa na vida: as relações pessoais, as experiências significativas e a conexão com o mundo ao nosso redor. Tecnologia! Use com cautela.
CARLOS J. F. LOPES, Psicólogo, escritor, integra a Associação Cultural dos Escritores de Passos e Região, cujos membros se revezam na autoria de textos desta coluna aos sábados