PATRÍCIA PEREIRA
Bye Barbie
O meu mundo é azul. Até pensei que ficaria um pouquinho rosa no último dia 20-07, data em que estreou em Passos o filme da Barbie.
Foi quando perguntei para o meu pequeno de seis anos: “Filho, você quer ir ver o filme da Barbie?”
E com a voz firme me devolveu: “Mãe, eu tenho cara de ver filme da Barbie?
Encerramos o assunto.
Com todo esse “auê” em cima da Barbie, fiquei solidária à Susi e à Beijoca. Duvido que esta ainda esteja distribuindo beijinhos aleatórios e aquela não esteja totalmente focada na academia correndo atrás da cinturinha inatingível de sua concorrente. Já que ambas são senhoras, provavelmente, também estejam vivenciando o etarismo.
Lembro-me quando elas eram as únicas enfeitando a cama de uma menina, e por isso, muito amadas.
Nunca fui muito paciente com trabalhos manuais, então a minha Susi era meio zoada. Ela ficava semanas com os mesmos penteados: duas marias- chiquinhas ou um rabo de cavalo na lateral. As roupinhas eram trocadas conforme a disponibilidade de retalhos cedidos pela Terezinha Avelar, costureira generosa da vizinhança, e a mobilidade da boneca permitia que eu a vestisse até com calças compridas.
A minha Susi esculhambou de vez no dia em que decidi ser uma estilista da Victoria Secret. Minha inabilidade e pragmatismo confeccionaram uma lingerie para a boneca com canetinha preta. Assim fiz e assim ficou.
Logo usei o mesmo método para maquiá-la. E com cílios postiços, batom vermelho, calcinha preta e três lindas sardinhas em cada bochecha ela foi morar para sempre dentro da caixa de brinquedos. E nunca mais voltou para minha cama.
Já a Barbie é pronta e linda. Duvido que alguma menina tenha coragem de retirar a tiara da boneca. É que a Mattel, empresa idealizadora do brinquedo, pegou para si a criatividade das crianças e chegou bem perto da perfeição. E para ela permanecer impecável, o melhor é comprar outra boneca, e mais outra…
Encontramos muitas justificativas para os nossos consumos exagerados. Em relação aos brinquedos dos nossos filhos, argumentamos que são o passaporte para um mundo encantado ou a chave mágica para o túnel da imaginação. Acredito que o mercado seja um expert nesse assunto.
Não me cabe fazer análises sobre o que baliza o comportamento das pessoas para o consumo. Cada um sabe das suas necessidades reais ou simbólicas para adquirirem uma, duas, três Barbies. E as razões de usarem um visual rosa para ver a boneca na telona.
Mas toda essa adesão exagerada ao lançamento do filme demonstra o quanto somos vulneráveis à publicidade e como um trabalho de marketing bem feito nos incentiva a fazermos escolhas desnecessárias.
Não assisti ao filme. Saturei só de ver a fila rosa dobrando a esquina da Praça da Matriz. Disseram-me que aborda o empoderamento feminino e que nem é tão infantil. Também já ouvi muitos elogios, a maioria feliz pelo estímulo à guerra dos sexos.
Eu não quero guerra com ninguém e mesmo que quisesse, acredito que um monólogo inflamado sobre a opressão feminina na sociedade contemporânea não seja a melhor estratégia para essa luta diária.
Para resolver as discórdias, prefiro o enredo do filme infantil “Elementos”, também em cartaz nos cinemas nacionais que resolve os conflitos de maneira doce e inteligente. Muito rico.
Penso que há duas formas de riqueza, uma delas é pela lógica da acumulação que nos dá pertencimento à sociedade capitalista; a outra é quando percebemos que para dar sentido a nossa existência precisamos de pouco.
Ops! Hi Barbie! Acho que acabei de adentrar o mundo cor-de-rosa da boneca.
PATRÍCIA LOPES PEREIRA SANTOS, graduada em odontologia (PUCMG) e direito (Fadipa), mestre em Políticas Públicas e Desenvolvimento Regional (Unifacef- Franca) e Especialista em Direito Público (Faculdade Newton de Paiva), é servidora pública do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. E-mail: acitripa70@ gmail.com