Dia a dia

Dia a Dia

29 de julho de 2023

SILVIA HELENA DOS REIS

Falta de educação ou informação?

Falar sobre a morte é algo muito difícil. Somente quando nos deparamos com familiares ou nós mesmos nesta situação, tomamos consciência da importância e dor que o fato nos traz. Sentimos o quão necessário nos é desenvolver o sentimento da empatia, da espiritualidade capaz de tornar essa experiência menos dolorosa e sofrida.

Buscar esse conhecimento espiritual é procurar por sentidos que transbordem a própria vida, nos leve a ter consciência de nós mesmos e do outro. É o questionamento sobre o existir e existir com o outro. Fazer uma revisão da vida, trabalhar a culpa, o medo, a solidão, o perdão. Perdoar e pedir perdão.

Pode ocorrer mesmo sem uma religião por trás, embora ter uma crença ou uma religião faz toda a diferença. Se apegar à esperança de cura é algo natural no início, mas a pessoa não fica apenas nesse aspecto, percebendo logo que tem de encarar de frente seus problemas.

Aquele que não acredita em uma continuidade da vida após a morte não se sentirá confortado pela espiritualidade e para ele tudo será mais difícil.
A morte do corpo físico é uma das poucas certezas que nós temos na vida aqui na Terra. Uma das razões para tanta dor é o desconhecimento da maioria das pessoas do que acontece após a morte.

A doutrina Espirita, por sua vez, através das muitas informações sobre a desencarnação, consola e responde aos milhões de corações que a vida continua. Com a morte, o espírito apenas se desprende do corpo físico e retorna para o plano espiritual.
A alma, outro nome usado para designar o espírito, conserva a sua individualidade mesmo após o desencarne.

Mas na verdade, não é sobre a morte em si que queremos falar.
Desde criança sempre morei próximo a um cemitério. Sempre convivi com funerais e, meus pais nos deixava bem tranquilos quanto a isso.

Só tínhamos uma condição: não podíamos ficar conversando ou rindo enquanto não passassem por completo pelo portão de nossa casa. Era uma questão de respeito aos mortos e aos familiares.

Velar significa auxiliar. O encarnado e o desencarnado. Auxiliar significa manter o pensamento edificante, preces e orações sinceras que resultam em vibrações salutares, balsamizantes e amparadoras que auxiliarão no socorro e auxílio ao espírito em passagem.

Conversas desnecessárias e fora de foco, em volumes exagerados e despropositais, atrapalham a mente dos familiares e do desencarnado. Pois o espirito é imortal, apenas a matéria densa morre.
Dependo da situação individual, o rompimento definitivo não se dá de imediato, ou seja, o desenlace do espírito não se dá ao mesmo tempo da morte física. Para ajudar na adaptação da nova condição, os espíritos encarregados do desenlace precisam de um certo tempo para que ocorra da melhor forma possível.

Crendo ou não nesses princípios, creio que todos concordam que devemos nos preparar melhor para nossa presença de conforto nesses momentos.
É bem desconcertante como alguns irmãos comportam-se nos velórios. Falatórios, risadas despropositais, cumprimentos exagerados a parentes que há tempos não se encontravam, uso de cigarros nas salas de espera.

Como é triste ver que não nos preparamos para essas situações. Conhecemos muitas regras de etiquetas para festas, comemorações, eventos. Mas não nos preparamos para a principal despedida. Ninguém está proibido de chorar pelo ente querido, abraçar os familiares ou conversar. Só precisamos ter medida. Evitar piadas, conversar sobre a forma do desencarne, comentários sobre defeitos do que faltou realizar.

Acho mesmo que as funerárias deveriam se preparar para oferecer mensagens de calma e tranquilidade aos familiares presentes. Colocar músicas clássicas bem baixinho, pequenas orações, cânticos religiosos.

As orações criam sempre um efeito de paz e harmonização. Aquietam o desespero e acalmam a emotividade daqueles que clamam por ajuda.
Fica aqui a intenção de auxílio nesse momento tão especial.

SILVIA HELENA DOS REIS, escritora e contadora de histórias. Membro da Academia Feminina Sul-Mineira de Letras e da Associação Cultural dos Escritores de Passos e Região, cujos associados se revezam na autoria de textos desta coluna aos sábados