26 de julho de 2023
Seleção precisa vencer as jamaicanas para manter no mundial./ Foto: Reprodução.
LAURETE GODOY
Tenho, ao longo dos anos, assistido à evolução da prática do futebol feminino ao redor do mundo. Estádios lotados, chutes portentosos, dribles e jogadas sensacionais. Diante dessa evidência volto no tempo e hoje pensei em dois acontecimentos, que merecem ser lembrados.
O primeiro deles: na década de 1980 eu participava ativamente dos eventos promovidos pelo Panathlon Club de São Paulo, que primavam pela excelência, graças ao entusiasmo do saudoso professor Henrique Nicolini, fundador, alma e coração da entidade.
Em face da sua amizade com o doutor João Havelange, este prestigiava sempre que possível, as solenidades panathléticas paulistas. Por isso, algumas vezes tive oportunidade de estar com o antigo nadador olímpico brasileiro que, eleito para a presidência da FIFA em 1974, nessa condição permaneceu por vinte e quatro anos.
Em um desses encontros, sabendo do incentivo que ele estava dando à prática do futebol para mulheres e planejando, inclusive, criar um Campeonato Mundial de Futebol Feminino, atrevi-me a questionar:-“Doutor Havelange, por favor! Futebol para as mulheres? O senhor não acha que será violento demais?
Pelo tamanho do campo, pelo tempo de jogo, peso da bola e características da modalidade? Acredito será brutal e impraticável para as mulheres! Desculpe, mas não creio que dará certo.”.
Tranquilamente, ele respondeu: -“Você está redondamente enganada. De início poderá ser lenta a aceitação, mas, com o passar do tempo, verá que as meninas serão um verdadeiro sucesso. Elas jogarão tão bem quanto os homens. Pode acreditar em mim.”.
Confesso que, apesar do entusiasmo do ilustre presidente, duvidei, achei que a ideia era inviável e seria um tiro na água. Doutor Havelange continuou investindo em sua certeza. O tempo foi passando e a Primeira Copa do Mundo Feminina foi realizada na China, em 1991.
No dia 7 de julho de 2019 ocorreu a final da última edição da Copa do Mundo de Futebol Feminino. Esse oitavo torneio foi considerado “copa das copas”, pela impactante audiência, tendo o público lotado o Parc Olympique Lyonnais, em Lyon, para assistir à disputa do título entre as equipes da Holanda e Estados Unidos. As norte-americanas venceram a partida por 2 x 0 e conquistaram o título pela quarta vez: 1991, 1999, 2015 e 2019.
O segundo ponto que me impressionou em tudo isso, foi ver a equipe feminina dos Estados Unidos tornar-se Tetracampeã de Futebol.
Volto no tempo e chego ao início da década de 1970, época em que os norte-americanos mal conheciam o Futebol e não se interessavam por ele. Porém, no dia 15 de junho de 1975, o New York Cosmos apresentou ao público um novo jogador: o brasileiro Edson Arantes do Nascimento e, a partir daí, o Cosmos ficou famoso internacionalmente, por ser “a equipe de Pelé”.
Foi com Pelé que tudo começou por lá e, no dia 14 de agosto de 1977, ocorreu recorde de público para o Futebol na América do Norte: 77.691 pessoas assistiram, no estádio, ao jogo entre o Cosmos de Nova York e a equipe de Fort Lauderdale. No ano de 1984, durante os Jogos Olímpicos de Los Angeles, o torneio de Futebol superou as mais otimistas perspectivas, porque foram quebrados todos os recordes de público registrados até então.
O tempo foi passando e hoje dou a mão à palmatória. Doutor Havelange estava repleto de razão.
Estamos no ano de 2023, vivendo as emoções da Copa do Mundo de Futebol Feminino considerada a maior de todos os tempos, porque reúne 32 seleções e está sendo realizada em duas sedes: Austrália e Nova Zelândia.
Neste 24 de julho, ocorreu a estreia das meninas do Brasil, que venceram as panamenhas de goleada. O placar foi 4 x 0.
Nesse bonito espetáculo esportivo visto por milhões de espectadores do mundo inteiro, fico alegre por pensar que, além das jogadoras, existem dois brasileiros que também merecem receber nossos aplausos: João Havelange, que acreditou e incentivou a prática do Futebol pelas mulheres e Pelé, nosso eterno Rei, que com seu talento, apresentou o futebol aos Estados Unidos e levou os norte-americanos a gostarem tanto do esporte, que sua equipe tornou-se Tetracampeã Mundial de Futebol Feminino.
Vamos torcer para que, desta vez, o título de 2023 venha para o Brasil.
Afinal, Havelange e Pelé merecem que isso aconteça.
LAURETE GODOY é escritora e pesquisadora. Autora de Brasileiros voadores – 300 anos pelos céus do mundo