LUCIANA KOTAKA
Não amadurecemos sem passar por diversas fricções
Conhece alguém que nunca passou por uma situação de conflito? Eu não conheço, justamente porque nos relacionamos o tempo todo com pessoas, independentemente do grau de afetividade sempre haverá fricções a serem resolvidas. E essa é uma questão a ser olhada com muito cuidado, pois a forma com que interpretamos comportamentos e falas podem determinar a qualidade das relações.
A grande questão é que fomos ensinados a olhar para os conflitos de forma negativa, reagimos com o intuito de nos defender pois interpretamos o que vem do outro quase sempre como um ataque. Bom, acabamos reagindo porque raramente nos deparamos com pessoas que sabem se relacionar assertivamente, e muitas vezes a fala do outro vem carregada de agressividade.
Mas se eu te falar que estamos fazendo uma leitura errada será que faz sentido para você? Quando pequenos fomos condicionados a fazer leituras de ataque e defesa, e dependendo do ambiente que crescemos esse comportamento é ainda mais reforçado. Em famílias disfuncionais, ou seja, onde os pais não conseguem se relacionar harmonicamente, os filhos acabam sendo expostos a muitos jogos de acusação, e os filhos certamente acabam sendo envolvidos.
Diante dessa realidade vamos experimentando esse jogo em vários contextos, na escola, em práticas esportivas, em festas, no ambiente profissional. Não percebemos o quanto esse jeitão de se comportar afeta todo o nosso contexto de vida. Posso afirmar que são poucas as pessoas que conseguem olhar para as situações de conflito de fora e que sabem que não devem tomar como ofensa os ataques que recebem. Compreendem que a agressão recebida não lhes diz respeito, e sim que pertencem ao mundo mental do agressor.
A projeção é um dos mecanismos de defesa mais utilizados, Freud sinalizou em seus estudos que utilizamos a projeção para atribuir ao outro nossos pensamentos, desejos e sentimentos indesejados. É mais fácil colocar no outro o que não conseguimos elaborar do que assumir a responsabilidade pelo que está incomodando.
Isso porque é difícil lidar com muitos de nossos conflitos internos, e o mecanismo de defesa entra como uma forma de amenizar a dor. Em certos momentos até acaba sendo interessante, mas quando uma pessoa vive em constante estado de negação e sempre projetando fora o que é de responsabilidade dela, se torna patológico.
É imprescindível que possamos entender que todo conflito traz uma grande aprendizagem, e o nosso papel é não entrar no conflito do outro. Isso abre a oportunidade da pessoa se questionar e entender o que a motivou a ter um comportamento agressivo, o que a situação mostra que precisa ser trabalhado. Mas se engana que a aprendizagem deve ser o foco somente do agressor, o outro lado também precisa entender o porquê foi alvo e qual a aprendizagem a ser compreendida.
O mais importante é compreender que todas as fricções nos fazem crescer, devemos ampliar o olhar sobre o nosso comportamento e motivações que nos levam a reagir negativamente. Sendo o agressor ou o agredido, adquirimos competência em nos relacionarmos a partir desse estado de consciência e mudança de postura.
LUCIANA KOTAKA escreve sobe comportamento, saúde e obesidade