Dia a dia

Dia a Dia

19 de julho de 2023

LUCIANA KOTAKA

Não amadurecemos sem passar por diversas fricções

Conhece alguém que nunca passou por uma situação de conflito? Eu não conheço, justamente porque nos relacionamos o tempo todo com pessoas, independentemente do grau de afetividade sempre haverá fricções a serem resolvidas. E essa é uma questão a ser olhada com muito cuidado, pois a forma com que interpretamos comportamentos e falas podem determinar a qualidade das relações.

A grande questão é que fomos ensinados a olhar para os conflitos de forma negativa, reagimos com o intuito de nos defender pois interpretamos o que vem do outro quase sempre como um ataque. Bom, acabamos reagindo porque raramente nos deparamos com pessoas que sabem se relacionar assertivamente, e muitas vezes a fala do outro vem carregada de agressividade.

Mas se eu te falar que estamos fazendo uma leitura errada será que faz sentido para você? Quando pequenos fomos condicionados a fazer leituras de ataque e defesa, e dependendo do ambiente que crescemos esse comportamento é ainda mais reforçado. Em famílias disfuncionais, ou seja, onde os pais não conseguem se relacionar harmonicamente, os filhos acabam sendo expostos a muitos jogos de acusação, e os filhos certamente acabam sendo envolvidos.

Diante dessa realidade vamos experimentando esse jogo em vários contextos, na escola, em práticas esportivas, em festas, no ambiente profissional. Não percebemos o quanto esse jeitão de se comportar afeta todo o nosso contexto de vida. Posso afirmar que são poucas as pessoas que conseguem olhar para as situações de conflito de fora e que sabem que não devem tomar como ofensa os ataques que recebem. Compreendem que a agressão recebida não lhes diz respeito, e sim que pertencem ao mundo mental do agressor.

A projeção é um dos mecanismos de defesa mais utilizados, Freud sinalizou em seus estudos que utilizamos a projeção para atribuir ao outro nossos pensamentos, desejos e sentimentos indesejados. É mais fácil colocar no outro o que não conseguimos elaborar do que assumir a responsabilidade pelo que está incomodando.

Isso porque é difícil lidar com muitos de nossos conflitos internos, e o mecanismo de defesa entra como uma forma de amenizar a dor. Em certos momentos até acaba sendo interessante, mas quando uma pessoa vive em constante estado de negação e sempre projetando fora o que é de responsabilidade dela, se torna patológico.

É imprescindível que possamos entender que todo conflito traz uma grande aprendizagem, e o nosso papel é não entrar no conflito do outro. Isso abre a oportunidade da pessoa se questionar e entender o que a motivou a ter um comportamento agressivo, o que a situação mostra que precisa ser trabalhado. Mas se engana que a aprendizagem deve ser o foco somente do agressor, o outro lado também precisa entender o porquê foi alvo e qual a aprendizagem a ser compreendida.

O mais importante é compreender que todas as fricções nos fazem crescer, devemos ampliar o olhar sobre o nosso comportamento e motivações que nos levam a reagir negativamente. Sendo o agressor ou o agredido, adquirimos competência em nos relacionarmos a partir desse estado de consciência e mudança de postura.

LUCIANA KOTAKA escreve sobe comportamento, saúde e obesidade