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De volta, Stones surpreendem

23 de outubro de 2023

Agora reduzidos a um trio, Mick Jagger, Keith Richards e Ron Wood mostram que ainda têm disposição e criatividade./ Foto: Divulgação.

MÚSICA

Lançado no final de semana, “Hackney diamonds” é o melhor álbum dos Rolling Stones desde “Tattoo you”, de 1981. Nesse intervalo de 42 anos, a banda lançou seis discos de material inédito, o último deles há 18 anos, “A bigger bang”. Agora, Mick Jagger, 80, e Keith Richards, 79, apresentam ótimas canções de uma banda rejuvenescida, musicalmente falando. As 12 faixas de “Hackney diamonds” contemplam muitas das personalidades sonoras que os Stones já apresentaram desde 1962, mas há uma modernidade percorrendo o álbum, que é, evidentemente, uma ação entre amigos.

Os Stones povoaram as sessões com camaradas que são alguns dos maiores nomes da música pop: Stevie Wonder, Elton John, Lady Gaga e… Paul McCartney! Sim, um Beatle no estúdio com os Stones. Paul toca baixo em “Bite my head off”, rock acelerado, do tipo que os Stones faziam muito no início dos anos 1970, na fase com o guitarrista Mick Taylor. A participação parece discreta até o minuto final da canção, quando Paul toca um baixo distorcido em duelo com uma guitarra sem efeitos de Richards. Um grande momento do rock.

“Sweet sounds of heaven” é o grande momento do álbum. Grande mesmo, uma faixa de quase sete minutos e meio que lembra a apropriação do gospel que os Stones já fizeram em hits imortais como “You can’t always get what you want”.

Começa com Mick Jagger cantando com um vigor não escutado há décadas, enquanto Stevie Wonder toca seus teclados como se estivesse numa igrejinha no Mississippi. A partir da metade da canção, Lady Gaga vai se insinuando, primeiro num vocal de apoio belíssimo, que cresce para um vozeirão que faz dueto (ou seria duelo?) com Jagger. Nos últimos minutos, eles brincam, como se estivessem se provocando. Forte candidata a canção do ano.

A morte do baterista Charlie Watts, em 2021, deixou marcas no álbum. Ele tocou em duas faixas, gravadas em 2019: “Mess it up”, quase disco music, e o ótimo rock “Live by the sword”.

As outras têm as baquetas de Steve Jordan, amigo antigo e produtor dos álbuns solo de Richards. “Live by the sword” conta também com o baixo de Bill Wyman, membro fundador dos Stones que deixou a banda há 30 anos.

Pelo menos nesta faixa, está de volta a formação do grupo de 1975 a 1993: Jagger, Richards, Watts, Wyman e Ronnie Wood. “Live by the sword” também conta com os teclados de Elton John. Segundo o produtor Don Was, Elton se manteve tímido no estúdio com os Stones. Além dessa, também toca em “Get close”, um rock batidão que não se destaca muito.

Quanto à escolha do primeiro single, “Angry”, é fácil de entender. É o rock típico dos Stones, que abre com um riff de guitarra possante, como “Start me up”, faixa inicial de “Tattoo you”.

Assim, faz mais um link com uma grande fase que os Stones não repetiam há quatro décadas. E eles fecham o disco com Jagger e Richards fazendo com voz, gaita e violão “Rolling stone blues”, a canção do bluesman Muddy Waters que inspirou o nome da banda.

HACKNEY DIAMONDS • The Rolling Stones • Nas plataformas digitais a partir de hoje; CD e vinil importados.