9 de outubro de 2023
Grupo lança ‘De Volta ao Novo – Volume 1′, com participação de Hebert Vianna./ Foto: Opus.
MÚSICA
Não existe desafio maior, apesar da banalização deste termo, do que uma banda que está em plena turnê comemorativa de 25 anos de carreira e, portanto, com alta dose de nostalgia no repertório, do que lançar um álbum de inéditas.
O grupo mineiro Jota Quest resolveu dar essa espécie de cavalo de pau, na estratégia de mercado, e não na sonoridade, é preciso esclarecer, e colocou nas plataformas o álbum De Volta ao Novo – Volume 1. É o primeiro com novas canções desde Pancadélico, de 2015.
Amparados pela gravadora Sony Music, multinacional com quem o grupo tem contrato desde 1996, a banda já planejava lançar o trabalho desde antes da pandemia. A parada forçada e, depois, a estreia da turnê comemorativa, despertou nos integrantes Rogério Flausino (vocal), Marco Túlio Lara (guitarra e violão), Márcio Buzelin (teclados), PJ (baixo) e Paulinho Fonseca (bateria) a vontade de começar tudo de novo.
Eles deixaram o conforto do estúdio próprio em Belo Horizonte e foram para São Paulo ao encontro do produtor Rick Bonadio, com quem nunca haviam trabalhado, o mesmo que pilotou discos de nomes como Charlie Brown Jr., Los Hermanos e Titãs, para seguirem de uma maneira que parecia óbvia: ser uma banda também na hora de fazer um álbum, em estúdio.
“Ele nos disse: a coisa mais exclusiva que vocês têm hoje em dia é ser uma banda. Sentem e toquem. Foi muito interessante, com toda a tecnologia disponível atualmente, ir para a essência”, explica Lara. “Hoje em dia é tudo tão editado, fabricado, que uma banda tocar no rádio pode soar até estranho”, diz Fonseca.
Foi Bonadio que trouxe o cantor e compositor Vitor Kley, 29 anos, para perto do Jota. A banda assina com ele a faixa N-U-M-A-B-O-A, balada dançante com batidas eletrônicas, piano e cordas. “O Vitor se parece com a gente na leveza quando fala sobre o amor. Somos bem baladeiros”, diz Flausino.
Na faixa seguinte, uma versão para Loco Loco (Amor Loco) de Emmanuel Horvilleur, da dupla argentina Illya Kuryaki & Valderramas, que inicia com um sample de Squash, do cultuado álbum Robson Jorge & Lincoln Olivetti, de 1982, reforçando a ligação do grupo com a black music e o uso de samples. A banda trabalhou com Olivetti (1954-2015) no disco Oxigênio, de 2000. O músico fez arranjos de cordas para a música Tele-Fome.
“Nossa banda foi montada para ser de black autoral brasileira. Essa sempre foi a nossa grande identidade. Com a entrada do Flausino, abrimos também para o pop rock”, explica Fonseca. “E tem sample em todos nossos discos. A primeira versão de As Dores do Mundo está cheia deles. No começo, a gente sampleava Simply Red”, diz.
Banda de uma geração posterior ao chamado BRock, o Jota Quest tem entre as suas inspirações Os Paralamas do Sucesso, formado por Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone. Algo fácil de entender. Foram os Paralamas que se abriram para o mundo, deixando gêneros como o reggae e a música africana, além de brasilidade, se misturar com o rock feito no País. Isso ocorreu já no segundo disco do grupo, O Passo do Lui (1984) e mais fortemente em Selvagem? (1986).