De galo sem pés à onça: passense cuida de animais ‘não convencionais’

Leonardo Natalino 

PASSOS – Macaco-prego, onça-parda, cobra, tamanduá-bandeira e galo sem pés são alguns dos clientes que frequentam a clínica veterinária do passense André Luiz Carvalho Amparado, um dos únicos veterinários da região que atende animais não convencionais. 

O passense exerce o ofício desde 2003, quando concluiu o curso de Medicina Veterinária. Aos 43 anos, André coleciona diversas ‘figurinhas’ no álbum de animais não convencionais que atende na clínica Planeta Bicho, localizada no número 417 da avenida Montese.  

Chamados de clientes pelo veterinário, grande parte dos animais incomuns chegam até André por meio da Polícia Militar de Meio Ambiente (PM MAmb), a partir de apreensões em ocorrências de tráfico, contrabando e domesticação de animais de maneira ilegal. 

“Muitos desses animais não convencionais chegam até mim por meio da Polícia Ambiental. E parte deles permanece comigo, quando não há possibilidade de fazer a soltura deles na fauna, principalmente exóticos, porque pode ocorrer prejuízo na cadeia alimentar”, diz Amparado. 

“Para permanecer com os animais, a Justiça me designa como fiel depositário. Alguns dos répteis que tenho foram adquiridos por conta dessa designação, por exemplo”, explica. 

O veterinário relata que os pets não convencionais, basicamente, são aqueles que não compõem o grupo dos pets comuns, formado por cães e gatos. Então, aves, répteis, quelônios, roedores, mini porcos e primatas são alguns dos grupos que compõem a categoria.  

Há duas semanas, passou pela clínica de André um macaco-prego, que foi apreendido pelo Corpo de Bombeiros após uma família notificar a presença do animal na residência. 

Depois de 10 dias na clínica passense, o primata foi encaminhado ao Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetras) de Divinópolis. A unidade é a que mais recebe animais exóticos que foram atendidos por André. Outra unidade que recebe – esta, em menor frequência – é a de Patos de Minas. 

Onças 

Entre os grupos mais encaminhados pela PM MAmb a André, o de aves lidera. Maritacas, papagaios e tucanos são tão comuns quanto cães e gatos na clínica. Animais do cerrado mineiro também são frequentes, como lobos-guará e tamanduás, bandeira e mirim.  

Onças pardas, típicas do bioma, também foram atendidas por André. Segundo ele, dois felinos filhotes foram encaminhados pela PM MAmb após apreensão em uma fazenda na região. Outras duas adultas também passaram pelas mãos do passense.  

Uma das adultas foi capturada por uma armadilha de javali, na usina Rio Grande, em Passos. O animal pesava 55 quilos e é apontado por André como o mais impactante e desafiador que passou pela clínica até hoje, há cerca de um ano e meio. Entre os felinos não convencionais mais recentes, uma jaguatirica esteve com André no fim do ano passado.  

Répteis 

O grupo de répteis é outro com grande presença na clínica. Em maio de 2023, a Polícia Civil deteve um homem, de 32 anos, que recebeu duas caixas com três cobras, dois jabutis e uma iguana, em Passos. A apreensão ocorreu no centro da cidade e André foi designado como fiel depositário, por serem animais exóticos. As cobras e iguana ficam no consultório do veterinário.  

Joãozinho 

André Amparado é o veterinário que cuida do galo sem pés, o Joãozinho. O pet não convencional pertence à Antônia Amélia de Souza, de 88 anos, e Gleida Souza, de 67 anos, mãe e filha passenses. 

O caso impressionou André, já que, segundo ele, 99% das pessoas na mesma situação das aposentadas teriam optado pela eutanásia de Joãozinho, que recebeu um andador e está próximo que ganhar um par de próteses para os pés. 

Reabilitação 

O veterinário passense afirma que a reabilitação dos animais que chegam até ele é a parte mais gratificante do trabalho. “Esse é o principal e mais gratificante ponto do trabalho: devolver os animais para a natureza. É o que me gera mais felicidade, e não tem dinheiro que compre esse sentimento.” 

André explica que a maioria dos animais exóticos não retornam à natureza, por conta do grau de domesticação e dos ferimentos que sofreram. Ele também alerta para as altas multas que são aplicadas aos proprietários ilegais de animais exóticos, e que atualmente existem diversos centros no país onde é feita a venda desses animais, como cobras e iguanas, e são autorizados pelo Ibama. 

Ainda de acordo com o passense, apenas um em cada 10 animais que são retirados da natureza sobrevivem. E, durante um ano, mais de 38 milhões são contrabandeados no país.