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Curso de arte sacra em Ouro Preto resgata técnicas do barroco

12 de agosto de 2025

Pintora mineira leva arte sacra barroca para o mundo e retorna à cidade mineira, recém-chegada da Itália / Foto: Reprodução/Ana Rocha Atelier

BELO HORIZONTE – Formar uma nova geração de artistas é a meta da arquiteta e especialista em arte sacra Ana Rocha, natural de Mariana (MG), que retorna ao Brasil após seis anos na Itália, onde atua na criação de obras contemporâneas utilizando métodos tradicionais. Mestre em arte sacra com foco em escultura, ela estará em Ouro Preto (MG) nos meses de setembro e outubro para ministrar três cursos presenciais no evento Ouro Preto Sacra.

A programação inclui a Especialização em Carnação Italiana (50 horas), de 22 a 27 de setembro; a Especialização em Douramento e Policromia (50 horas), nos dias 29 e 30 de setembro; e o curso Sacra Lux – Círio Pascal como Obra de Arte (39 horas), de 4 a 8 de outubro. Ouro Preto foi escolhida por ser considerada “o coração do barroco brasileiro”, onde a arte sacra permanece viva nas igrejas, museus, ruas e ateliês.

A expectativa é reunir 90 alunos do Brasil e do exterior. Dois professores convidados, entre eles um docente italiano da Escola de Arte Sacra de Florença, especialista em simbolismo e liturgia, também participarão. As atividades terão aulas práticas com Ana Rocha e aulas teóricas ministradas em igrejas históricas.

Além das aulas presenciais, os participantes receberão material completo para revisão, mentoria individual por três meses, grupo de troca de experiências e certificado de conclusão. Esta edição conta com a parceria do Museu Boulieu, inaugurado em 2021 e detentor de um dos maiores acervos de arte sacra do país.

Tradição

Crescida em Ouro Preto, Ana iniciou-se na arte sacra aos 13 anos, como assistente de mestres como Hélio Petrus e Elias Layon. Estudou Arquitetura na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e cursou restauro na Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop). Desde cedo, notou que os artistas locais preservavam técnicas como policromia, douramento e carnação, mas evitavam transmiti-las, o que dificultava a formação de novos profissionais.

Para suprir essa lacuna, iniciou, em 2016, cursos livres de arte sacra em parceria com o Museu de Arte Sacra de São Paulo. Foram mais de dez edições presenciais com alunos de todo o país.

Em 2019, mudou-se para a Itália para trabalhar com escultores do norte do país e percebeu que, mesmo lá, poucas pessoas dominavam as técnicas tradicionais — geralmente profissionais acima dos 60 anos. O fechamento de muitas oficinas na década de 2000 evidenciou a carência de mão de obra qualificada. Durante a pandemia, obteve bolsa para mestrado em Florença e passou a integrar o corpo docente da Escola de Arte Sacra da cidade, ensinando métodos como a policromia com têmpera a ovo, feita com pigmentos naturais e folhas de ouro.

Hoje, Ana Rocha celebra o interesse crescente. “Já formamos mais de 500 alunos presenciais e 1.500 online. Mais do que divulgar meu trabalho, é fundamental preservar e transmitir essas técnicas raras, que estavam prestes a desaparecer”, afirma.