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Conviver com desigualdades e diversidades

Foto: Reprodução

ESDRAS AZARIAS DE CAMPOS

Ninguém nasce conservador, progressista, socialista, anarquista, esquerdista, direitista, religioso ou qualquer outro rótulo ideológico que adquirimos pela vida. Tudo, ou quase tudo que somos ou passamos a ser é circunstancial até que tomamos consciência de que somos algo e então, resolvemos se queremos continuar a ser esse algo ou se queremos mudar. Ser outro algo. Não existe determinismo nas circunstâncias, mas em geral o meio pode influenciar e muito. Pergunte a você mesmo, por que você é católico? Faça essa pergunta a um presbiteriano! Ou a um budista! Islamita, Metodista! Ou então, pergunte aos que mudaram, por que mudaram? Por que deixaram de ser católico, presbiteriano, budista? Ou islamita? Por que mudaram de rótulo? São questões que tenho certeza, os leitores que estão me seguindo até aqui, e são chegados em questões existenciais gostariam de saber por que se muda de uma coisa para outra, ou então porque permanece a vida toda sem mudar! Conformismo ou convicção? A princípio a certeza é esta, ninguém nasce com uma confissão religiosa ou acreditando em um determinado Deus, ou em qualquer ideologia, seja de fundo liberal, direita ou esquerda, capitalista ou comunista. Quando se dá pela coisa, eis aí seguindo as influências familiares e do meio social. O meio explica muita coisa, mas não explica tudo, por isso temos de recorrer aos estudos especializados de diversas áreas do conhecimento e da ciência. Ou então, apelamos para o bom senso, a educação que recebemos desde o berço e quem sabe com tudo isto tentar entender as diferenças para melhor conviver com elas. Até porque para o outro o diferente é você.

Pense bem nisto, você vive num mundo onde os preconceitos contra as diferenças se inovaram, até meio século atrás pareciam não existir, ou pior existiam, mas ninguém se dava conta de que era homofóbico ou se era racista e achava natural usar expressões para denotar um racismo enraizado. A misoginia era tão natural que no carnaval a marchinha que mais fazia sucesso era “Aí que saudades da Amélia” de Mário Lago, versava sobre a “mulher que passava fome e achava bonito não ter o que comer e por isto era a mulher de verdade”. Assim como o racismo também parecia inocente na marchinha “nega do cabelo duro, qual é o pente que te penteia” de autoria do jornalista David Nasser.

Qual a maior causa do preconceito, isto é, a não aceitação daquele que é diferente, porque ele pensa o que eu não penso e gosta do que não gosto. As diferenças agora, sejam no mundo, ou especialmente no Brasil, são as desigualdades sociais. Sim, como ligar uma coisa a outra, ou seja, desigualdade social e preconceito social. A maioria das discriminações recaem sobre as classes menos favorecidas.

Em sua obra intitulada “O Povo Brasileiro”, o professor e antropólogo Darcy Ribeiro afirma que “apesar da associação da pobreza com a negritude, as diferenças profundas que separam e opõem os brasileiros em extratos flagrantemente contrastantes são de natureza social”. Isso sugere que, para além do preconceito racial tão discutido no Brasil, há outro que está pautado na posição social dos indivíduos, conforme seu acesso à renda, poder aquisitivo, padrão de vida e nível de escolaridade. Em outras palavras, no Brasil também existe o chamado preconceito de classe social.

O que está explícito no atual século é a intolerância ideológica provinda de grupos extremistas políticos especialmente com avanço do neofascismo se imiscuindo com religião. E o pior de tudo isso, a nossa sociedade não está preparada culturalmente para respeitar as diferenças, sejam elas políticas, ideológicas, religiosas, de classes sociais e, em especial, de diversidade sexual e de gênero. Nós não podemos aceitar a regressão ou as perdas das conquistas dos direitos à cidadania. É nosso dever lutar diariamente contra qualquer tipo de discriminação e intolerância. Se queremos um país diferente e sobretudo decente, as diversidades têm de ser respeitadas.

ESDRAS AZARIAS DE CAMPOS é Professor de História

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