24 de julho de 2024
Casos teriam ocorrido em novembro de 2023 / Foto: Reprodução
LEONARDO NATALINO
PASSOS – O Conselho Universitário (Conun) da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) aprovou o desligamento de um estudante do curso de Direito da unidade Passos acusado de cometer racismo. A medida foi aprovada na última quinta-feira, 18. Em entrevista à Folha da Manhã, o rapaz nega as acusações e afirma que está sendo perseguido.
A decisão de expulsar o estudante foi tomada após deliberação do Conselho Departamental da unidade Passos, que ocorreu em março deste ano. A informação foi confirmada pelo vice-diretor da Uemg Passos, Vinícius D’Ávila. O estudante é morador de Piumhi e cursava o 3º período do curso de Direito, em Passos.
O caso
Em novembro de 2023, a direção da Uemg de Passos foi procurada por alunos e servidores por conta de supostos casos de racismo, homofobia e assédio cometidos pelo aluno. Um dos casos seria sobre o estudante ter associado uma servidora à imagem de uma macaca.
Os servidores contrataram advogados para representá-los na esfera civil e criminal. O inquérito criminal foi encaminhado ao Ministério Público, onde segue em andamento.
Na época, em entrevista à Folha da Manhã, dois alunos da universidade relataram ter convivido com o estudante e presenciado supostos atos racistas, que teriam sido cometidos por ele em 2022. Os entrevistados frequentavam o Bloco 5 (Cire) da instituição, onde o rapaz estudava.
“Eu não era próximo dele, mas frequentava o Cire. Éramos de cursos diferentes. Eu vi ele tendo atos claramente racistas, que, para ele, pareciam não significar nada, e atos que, particularmente, eu enxergo como assédio”, afirma um dos alunos.
“Atos que eu presenciei ele falando: comentando sobre o corpo de mulheres pretas e sobre o cabelo cacheado delas, entre outras coisas. Eu nunca vi ele falando de homens, só falava de mulheres. Isso mostra que ele é um covarde. Tem peito para falar de mulher, mas não tem coragem para falar dos homens”, disse.
Outro estudante relatou que teria sofrido racismo e que presenciou uma amiga que teria sido assediada algumas vezes pelo rapaz. “Eu saia de Piumhi para Passos e a gente pegava ônibus. Esperávamos até umas 22h30 no ponto, e ele tentava amigar comigo e uma amiga. Uma vez, ele fez o vestibular da Uemg e não passou e colocou a culpa numa aluna negra que entrou pela cota racial”, disse.
A estudante também relatou um caso em que sua amiga estava mostrando fotos na galeria do celular e passou por uma de biquíni. O rapaz viu e a teria chamado de “gostosa”, em tom agressivo, que incomodou a jovem. “Ele foi nojento, comentou sobre o corpo dela. Não foi de bom tom como um ‘Bonita’. Ele falou ‘Nossa que gostosa, você esconde isso debaixo da roupa?”, disse.
“Uma vez, no frio, eu cheguei na faculdade de agasalho e ele passou a mão em mim e disse ‘Nossa. Você tá tão bonita hoje. Você tem namorado?’. Tudo isso sem intimidade nenhuma. Foi bem assustador”, afirma.
Outro aluno também relata que o jovem teria defendido o regime nazista da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial em sala de aula. O estudante teria chegado a fazer saudação nazista e teria elogiado Adolf Hitler.
Defesa
Em entrevista à Folha da Manhã, ele disse não ter certeza se vai recorrer judicialmente. Ele afirma que está sendo vítima de perseguição e que não foram ouvidas as testemunhas de defesa.
“Apenas me acusaram. Não foi respeitado o princípio da ampla defesa e do contraditório. Estou há cinco anos na Uemg. Antes do direito, fiz administração. Nunca tive problema com ninguém”, disse.
“Não tenho nenhum problema com aqueles que são diferentes de mim, nem por cor, religião. Sempre respeito todos. Colegas, professores e funcionários. Muita gente tem medo de me defender por ter medo de sofrer perseguição também”, continuou.
O estudante afirmou que provará a inocência e limpará o nome. Também reafirmou que não é racista e que algumas pessoas tentam incriminá-lo de maneira leviana.