BELO HORIZONTE – A cadeia de produção de leite no Brasil enfrenta um cenário de dificuldades motivadas por fatores nacionais e internacionais. As guerras em curso, entre Rússia e Ucrânia, e Israel e Palestina, somadas ao crescente volume de importação de leite e derivados têm desestimulado a produção nacional.
O coordenador técnico estadual em Bovinocultura da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), Nauto Martins, explica que “a entrada de leite e derivados vindos principalmente da Argentina e Uruguai provoca um aumento na oferta de produtos no mercado nacional. As importações brasileiras de leite alcançaram o equivalente a 219,3 milhões de litros em dezembro de 2023, com alta de 48,6% em relação ao mesmo mês de 2022. Por isso, os produtos tendem a ficar mais baratos ao consumidor”.
Dados do Centro de Inteligência do Leite (Cileite) mostram que, nos últimos 12 meses, o preço da cesta de lácteos registrou queda de 3%. O déficit é motivado pela alta das importações. Entre os derivados de leite comercializados no varejo, a maior alta mensal foi do iogurte (0,9%) e a maior queda, foi do leite condensado (-1,7%).
Enquanto os consumidores desfrutam de um cenário positivo, os produtores de leite enfrentam desafios que exigem atenção especial. A média nacional do preço do leite para o produtor registrou uma retração equivalente a 21% na comparação entre novembro de 2023 e o mesmo mês de 2022, chegando a R$2,00 por litro.
“Se a oferta dos produtos à base de leite no mercado é alta, os preços tendem a cair, isso é natural. O problema é que o custo que o produtor tem para colocar o produto no mercado, via de regra, não segue a mesma tendência, comprometendo a sua margem de lucro. Isso é o que torna o cenário desafiador”, comenta o técnico da Emater Minas.
Eficiência e qualidade
Diante deste panorama, Nauto acredita que os agricultores que produzem em menor escala são os que mais sofrem. “Um produtor que obtém um rendimento mais alto consegue operar de forma mais eficiente, pois seus custos são diluídos em uma produção maior. Além disso, como a indústria tende a priorizar a captação de leite de produtores com volumes de produção mais elevados para reduzir os custos logísticos, esse produtor consegue disponibilizar uma quantidade maior de produtos no mercado”, afirma.
O especialista da Emater destaca a importância do trabalho realizado pela empresa para ajudar os produtores a alcançarem uma produção mais rentável. “Os técnicos da Emater orientam os produtores a fim de proporcionar um produto de qualidade, com valor agregado, valorizado tanto pela indústria quanto pelo consumidor. Além disso, os produtores são orientados a implementar uma gestão eficiente e a adotar as boas práticas agropecuárias de produção”, diz.
“O produtor deve se manter antenado ao que acontece no mercado nacional e internacional e trabalhar no dia a dia atendendo as demandas de um mercado cada vez mais exigente, já que a cadeia de produção do leite é complexa. Neste momento, é importante reafirmar a eficiência da produção interna para suprir o mercado. Minas Gerais é um estado que se destaca nesse sentido e, com certeza, continuará a ser um importante protagonista na garantia da oferta de leite, contribuindo para a estabilidade e resiliência do setor, mesmo em tempos desafiadores como os que vivemos atualmente”, afirma o coordenador da Emater-MG.