Décio Martins Cançado
21 de dezembro de 2021
Não querendo entrar em aspectos religiosos, teológicos, filosóficos ou, ainda, ser pragmático, gostaria de dividir com os leitores uma reflexão interessante.
Fala-se muito na ‘evolução’ das espécies, que os humanos são o resultado desse processo, e que temos, como ancestrais, os macacos. Por outro lado, ‘involução’, significa exatamente o contrário, ou seja, que a humanidade caminha para uma ‘regressão’ da espécie, utilizando sua capacidade de pensar, e decidir, para destruir os próprios irmãos, o meio em que vive, e, por consequência, o planeta que habita.
Cada vez mais, estuda-se e se discute a respeito do aquecimento global, da surpreendente seca em alguns lugares, do aumento do nível dos oceanos e das alterações climáticas de um modo geral, efeitos causados pelo próprio homem, através de suas ações e do desenvolvimento industrial. Daí, ficarmos pensando a respeito da afirmação: “O homem é, sabe que é, mas não sabe quem ele é”.
Nenhum outro animal pode fugir de seu destino. Ele é sempre predeterminado, é pré-programado, age por instinto. O homem, porém, não tem qualquer programa prévio; ele é, constantemente, uma abertura a novas possibilidades. Mil e uma coisas são possíveis. Por isso, surge a ansiedade: “Ser isso ou aquilo? Ir para a direita ou para a esquerda? Viver desse ou daquele jeito? O que é certo ou errado? O que irá me satisfazer”?
A cada momento, o homem tem que decidir. E, quando decide, há sempre a possibilidade de fazer escolhas erradas. Na verdade, as probabilidades disso acontecer são maiores. Por isso, uma grande angústia: “Eu vou fazer isso? Sendo eu mesmo, serei bem sucedido? Ou isso vai ser apenas um grande e inútil esforço e, ao final, terei só frustração e fracasso? Essa vida que levo se tornará uma base a uma condição ainda melhor? Ou isso nada mais é do que uma morte? Existe apenas um túmulo no final, ou alguma coisa mais?
O homem é um ser aberto. Nada é definitivo. O animal é absolutamente previsível, mas o homem não. Ele pode perder ou ganhar, ao contrário dos animais. Ambas as possibilidades vêm juntas. O homem pode crescer… Ele é crescimento. O mero ‘talvez’ pode se tornar verdade. O ‘potencial’ pode ser transformado em ‘realidade’. A semente pode se tornar um florescimento. Aquilo que era desconhecido pode se manifestar, e, então, acontecer um grande esplendor, uma grande bênção. O homem é um processo constante. Alguma coisa está sempre acontecendo, está sempre à beira do acontecimento. O homem é uma excitação, uma aventura, uma peregrinação.
A fábula a seguir demonstra que devemos repensar nossas atitudes: “Alguns macacos, sentados num coqueiro, discutiam sobre coisas de que ouviram dizer… Disse um deles: – Há um rumor que os seres humanos descendem da nossa nobre raça. Outro respondeu: – Bem, essa ideia é uma desgraça, porque nenhum macaco jamais desprotegeu sua fêmea, deixou seus bebês famintos ou arruinou a vida deles. Tampouco um bando deles se reuniu para estuprar uma fêmea indefesa.
Retrucou outro macaco: – E nunca se ouviu dizer que alguma mãe macaca tivesse dado seus filhos a outra, ou que alguma delas tivesse passado os filhos a outra mãe, até que eles ignorassem de quem realmente eram filhos. Nunca soube que uma de nossas fêmeas tivesse jogado fora seus filhotes, deixando-os em lixeiras ou dentro de sacos para que alguém os encontrasse, correndo o risco de morrerem. Nossas fêmeas não fazem a menor distinção entre o sexo dos bebês; e nunca deixam de amamentá-los… Há também outra coisa que nunca foi vista entre nós: Macacos cercando uma bananeira e deixando as bananas apodrecerem, proibindo outros macacos de se alimentarem, além do que, se a árvore fosse cercada, a fome faria outros macacos nos roubarem.
Outra coisa que macacos jamais fizeram: Sair à noite, agora também de dia, para roubar, usando porretes, facas ou armas, para tirar a vida de outros macacos. Sim, os humanos descendem de uma espécie muito rude de primatas; o que vocês podem facilmente perceber pelo que fazem com os lugares onde moram, quando derrubam, sem dó, tudo que encontram pela frente, pela sujeira que espalham e o fogo que põem nas matas, além dos costumes estranhos que têm, jogando poluição no ar que respiram e na água que consomem; isso tudo, deve fazer com que fiquem muito violentos…
Nós não fazemos nada disso; e quando pegam um de nós, nos põem atrás das grades, são ferozes mesmo! Amigos… Com certeza, os humanos não descendem de nós!”