3 de junho de 2023
Fabrine Aguilar e Reni Aparecido, agora bem mais felizes, contam os dias para a fertilização in vitro para que se tornarem pai e mãe./ Foto: Divulgação.
Luciene Garcia
PASSOS – A vida de Fabrine Aguilar Jardim Pinto, de 34 anos, certamente mereceria um livro. Natural de Salinas, norte de Minas, ela é enfermeira, professora do curso de Enfermagem na Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) – unidade Passos e dá aulas no curso técnico da Escola Técnica de Passos (Etep). Ela acalenta o sonho, como muitas mulheres, de ter um filho, mas esbarrou no problema da infertilidade.
Sua infertilidade veio em decorrência de um câncer que teve quando era criança. Ela e o marido Reni Aparecido Norberto Pinto, também professor universitário no curso de Sistemas de Informação, também na Uemg/Passos, foram contemplados em um concurso da ONG “Gestar”, instituição sem fins lucrativos que tem como objetivo viabilizar tratamentos de reprodução assistidas.
A ONG foi fundada por Vanessa Jost e tem mais de 28,1 mil seguidores no Instagram, onde escolheu duas histórias para serem premiadas com uma fertilização in vitro. Fabrine foi uma das sorteadas e sua história de vida recebeu 9.931 curtidas na rede social. O resultado foi publicado na última quarta-feira, 31.
A infertilidade de Fabrine começou decorreu quando foi diagnosticada com câncer, Linfoma de Burkitt, aos quatro anos. Por conta da doença ainda na infância, resultou na dificuldade de engravidar na vida já adulta. “Ainda me lembro das palavras do médico: ‘mãe é quem cuida’, e infelizmente, naquele dia tive o diagnóstico de infertilidade devido ao tratamento e desde então minha vida mudou em todos os sentidos”, conta.
“O câncer deixou uma marca profunda na minha história, uma marca que não escolhi, mas que teve um impacto significativo em minha vida. Incomodada com essa situação, de saber da infertilidade somente após alguns anos do término do meu tratamento, e de que não poderia ser mãe de forma natural, decidi estudar sobre o tema. Movida pela minha própria experiência e pela vontade de ajudar outras pessoas que enfrentam a mesma luta, decidi me aprofundar no estudo da infertilidade e do câncer”, disse Fabrine.
Apesar da dor da infertilidade, escolheu pesquisar sobre o assunto para ajudar outras pessoas que tiveram câncer e que estão passando por isso. Em 2014, iniciou o mestrado na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), onde pesquisou as incertezas e preocupações relacionadas à fertilidade em adolescentes e adultos jovens que sobreviveram ao câncer na infância e adolescência. Mesmo diante de tanta dor, não desistiu de estudar sobre este tema e após concluir o mestrado, se especializou em oncologia, trabalhou na área e atualmente cursa o doutorado na mesma instituição.
Segundo Fabrine, as coisas mudaram depois do casamento em agosto do ano de 2020, pois a vontade de ser mãe aumentou. “E sabe aquele momento que precisamos agradecer a Deus? Foi quando encontrei meu marido, o Reni, que decidiu estar ao meu lado e construir uma família mesmo sabendo do meu diagnóstico de infertilidade e dos desafios que teríamos pela frente”, conta emocionada em seu depoimento.
A jornada começou no final de 2020. O casal consultou com alguns médicos e todos falaram sobre a fertilização in vitro, uma alternativa que deu esperança. “Juntamos nossas economias para iniciar o tratamento, com muita força, esperança e orações de todos ao nosso redor, e realizamos a transferência de dois embriões no dia 1º de março de 2021, no meu aniversário, quando completei 32 anos. Naquele momento senti que estava recebendo o melhor presente do mundo, a esperança de realizar um sonho”, disse Fabrine.
“Ansiosa, fiz o teste de gravidez antes do tempo e deu positivo. Eu e meu marido ficamos extremamente felizes, mas infelizmente, no dia do ultrassom, não ouvimos o coração do nosso anjinho, e acabamos descobrindo uma gravidez química. Foi um sofrimento imenso, perdi temporariamente a esperança. Foram dias difíceis para nossa família”, conta.
Após a perda, Fabrine deixou de seguir alguns perfis no Instagram, menos do doutor Matheus Roque, que compartilhava histórias de mulheres com o mesmo problema e isso a encheu de esperança. “Dentro do meu coração ainda havia a esperança de um dia poder realizar meu sonho. Lembro-me especialmente de uma foto que o doutor Matheus postou em uma igreja em Curvelo/MG. Fiz um desejo ao ver aquela imagem, pedi muito a Jesus para que um dia eu tivesse a oportunidade de realizar meu sonho”, narra.
“Chegamos a pensar que nunca mais teríamos dinheiro para uma fertilização e diante disso vivemos dias difíceis. Gastamos R$ 24 mil e não posso dizer que foi um gasto, porque nosso sonho não tinha preço. Mas esse dinheiro fez muita falta para um casal recém-casado. Até hoje estamos pagando o empréstimo que fizemos para a realização do procedimento”, diz.
Fabrine conta que o último ‘Dia das Mães’ foi um dos mais difíceis. “Esse último dia das mães foi muito difícil para mim, mas pedi muito a Deus que ano que vem eu possa comemorar de alguma forma essa data. Todos os dias, estudo incansavelmente o assunto (infertilidade e câncer), ciente de que meu esforço pode ajudar outras pessoas que, como eu, anseiam pelo milagre da vida. A possibilidade de ser contemplada com uma fertilização renova nossas esperanças, pois tenho certeza que muito em breve, nossa família estará completa e repleta de muito amor. Com o câncer pude sentir de perto a dor da possibilidade de não ser mãe. Porém, mais do que tudo, esse mesmo câncer também despertou em mim uma força e determinação que desconhecia”, diz.
Fabrine já foi procurada pela ONG e só falta a clínica contatar o casal para saber como serão os procedimentos, mas de uma coisa ela sabe e todos nós sabemos: acreditar é preciso.