MÁRCIO NOGUEIRA
Dia desses sentado na sala de minha casa, ao meu lado minha netinha, quando de repente entra pela janela uma abelha. Assustei-me, porém nada demonstrei. Num móvel ao nosso lado estava um vaso com belas e viçosas flores na cor vermelha e foi para lá que a abelha se dirigiu. Senti que ela explorou aquela maravilha da natureza e continuou seu voo em direção à minha netinha. Minha ansiedade aumentou. Ela veio pousar na sua mãozinha que estava repousada sobre o braço do sofá.
Fiquei surpreso! Sofia, minha netinha, passou a observá-la com carinho e curiosidade. Caminhava ela pelo dorso de sua mão. Alongou a caminhada pelos seu braço e num voo rápido pousou em sua testinha. Parecia inofensiva. Para meu espanto veio até mim. Fiquei inerte com ela no meu braço. Num outro voo veio à minha testa e, depois de curto tempo foi pousar novamente na mãozinha da netinha.
Senti que entre elas havia um diálogo e que, naquele momento, estavam iniciando uma amizade. O mesmo percurso foi repetido, para o meu espanto e para alegria daquela criança que não conhecia o perigo de seu ferrão defensor.
Em pouco tempo novo voo. Agora em direção àquela bela flor que ornamentava a sala de nossa casa. Em pouco segundos ela desapareceu de nossa vista. Em poucos segundo ela reapareceu. Estávamos extasiados com tudo aquilo. Até então nada falamos. A abelhinha espertamente lançou em um voo acrobático pela sala, mostrando a sua magia de voar, passou por nós, alcançou a janela e ganhou o mundo.
Iniciamos um diálogo de forma como nunca tínhamos feito.
– Vovô, que bichinho é esse?
-É uma abelha!
-Gostei dela. É minha amiguinha. Acho que ela gostou de mim também. Vou chamá-la de Belinha. Passeou em mim. Me fez carinho no rosto e fez cócega em minha mão. Onde ela mora? Será que ela vai voltar?
-A Belinha mora longe. Sua casa é uma colmeia no meio do mato. Se ela gostou de você e da flor que ela pousou, é bem provável que volte.
Diante dessas palavras e desses questionamentos meu susto desapareceu e foi a vez de eu me questionar. Será possível que um ser humano e um inseto possam ter amizade? Será que ela vai voltar?
Achei que aquele momento era para dar-lhes explicações. Disse-lhe que as abelhas são os insetos que produzem aquele mel docinho que sua mãe lhe dá todo dia. Disse-lhe que as abelhas produzem o própolis que o vovô toma todo dia para garantir a sua saúde.
-Esse própolis é remédio, vovô?
-É e não é. Uma hora quando você for maiorzinha eu vou te explicar direitinho o ele é.
-E o mel. São as abelhas que fazem?
-Exatamente. O mel é o alimento das abelhas, e nós, os seres humanos, o usamos também como alimento nosso.
-Como que ele é feito?
-Pra te falar rapidamente, você viu a abelhinha voar para a flores aqui na sala?
-A Belinha minha amiga? Vi sim.
-Então… Elas visitam muitas flores por dia em busca uma coisa chamada polem que as flores contêm. Esse polem elas levam para a colmeia, que é onde moram e lá fabricam o mel e o própolis, além de outras coisas como a cera.
-É pouco o mel que elas fazem?
-Isso mesmo. Cada abelha produz um pouquinho, mas como são milhares de abelhas na colmeia, elas produzem até sessenta quilos de mel por ano.
-Que tantão, heim em vovô? O que mais que as abelhas fazem.
-Além desses alimentos as abelhas fazem a polinização das plantas. São elas as principais polinizadores dos vegetais. Flores, frutas, arroz, feijão, verduras, tudo que é vegetal precisa ser polinizado. As abelhas são os maiores polinizadores do mundo. Sem elas haveria poucos alimentos para matar nossa fome.
-Nossa vovô! E tem gente que mata as abelhas.
-Sofia, os homens são os que mais matam as abelhas. Eles jogam veneno para matar insetos nocivos para as plantas e matam os bons também. É assim que as abelhas estão correndo o risco de acabar.
-Vovô, me falaram que as abelhas machucam a gente. É verdade?
-É sim. É verdade, mas só se você as agredir. Elas têm um ferrão que, quando atacadas por alguém, elas se defendem picando o indivíduo. Fora disso elas só fazem o bem. Tem animais que matam outros animais para se alimentarem. Outros comem frutas e capins. As abelhas nunca fazem isso.
As abelhas vivem do néctar das flores, fazem outras coisas além polinizar os vegetais para alimentar a humanidade.
– Vovô, será que essa abelhinha vai voltar aqui?
-Não sei não! Amanhã vamos ficar aqui neste mesmo lugar, nesta mesma hora. Se ela voltar quero vê-la te dar um beijinho como ela fez hoje. Combinado?
-Combinado.
No dia seguinte a amiguinha voltou. Sentou-se na mão da menina, deu-lhe um beijinho ao seu modo, voou pela sala em voos acrobáticos. Percebeu que o vaso de flores havia sido retirado da sala. Fez outros giros parece que procurando alguma flor. Nada encontrou. Pousou novamente na testinha de Sofia. Percebi tratar-se de uma despedida. Belinha partiu por onde entrou e nunca mais voltou.
Ficou para um velho a lição de uma criança: todos no mundo podem ser amigos. E um mundo só de amigos seria muito melhor.
MARCIO NOGUEIRA é sociólogo. E-mail: marcio@brazilresearch.com.br. Escreveu o artigo para lembrar que o Dia 20 é dia da abelha.