13 de novembro de 2024
FOTO: REPRODUÇÃO
Ataíde Vilela
Aristóteles, o grande filosofo e pensador definiu que o homem é um animal racional, capaz de raciocinar. Depois de Aristóteles quase todos os pensadores seguiram a mesma linha. O homem é único, é um ser racional e por isso é um ser dotado de inteligência diferente dos animais. Sua capacidade inventiva não tem limite, porém grande parte de suas invenções foi desastrosa. Algumas delas acabaram sendo catastróficas e contribuíram para a destruição da natureza e da própria vida. Ainda estão gravadas em nossas mentes as tristes imagens de destruição vivenciadas pelo povo gaúcho. As inundações de Porto Alegre, capital do estado do RS, de Pelotas, de Canoas e várias outras cidades gaúchas foram ocasionadas por chuvas intensas. Na semana passada fenômeno idêntico a esse ocorreu em Valencia, na Espanha. Cidades daquela região foram atingidas deixando vítimas e muitas pessoas desabrigadas. Mudou o continente, o país, a região, mas a causa responsável pela ocorrência desse fenômeno climático foi a mesma. Grandes volumes d’água caíram num curto espaço de tempo. Isso tornou impossível o escoamento e drenagem d’água de forma adequada. Não existe sistema de drenagem que funcione em condições tão adversas.
Segundo cientistas e estudiosos do clima esse fenômeno aconteceu aqui no Brasil e na Espanha por erros cometidos pelo próprio homem. A causa que gera esse fenômeno climático todos nós já conhecemos. É o aumento da temperatura global causado pela emissão de gás carbônico (CO2). Começou com a revolução industrial, processo que trouxe grandes transformações tecnológicas, sociais e econômicas e teve seu início na Inglaterra no século XVIII. Depois se espalhou pelos países do hemisfério Norte no século XIX e começo do século XX. A produção de mercadorias foi facilitada, ficou mais barata e acessível, mas trouxe também grandes impactos e danos ao meio ambiente. A emissão do gás (CO2) na atmosfera aumentou de forma exponencial desde a revolução industrial até hoje. A emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera gerado seja por meio de processos industriais, queima de madeiras ou biomassa gera o chamado efeito estufa. O efeito estufa por sua vez provoca alterações climáticas importantes em diferentes regiões do mundo. Fenômenos como o El Niño e o La Niña estão cada vez mais frequentes e estão alterando o ciclo de chuva em muitas regiões. O El Niño reduz a temperatura das águas do oceano Pacífico na sua porção equatorial enquanto o La Niña provoca a diminuição da temperatura das águas do oceano Pacífico, também na sua porção equatorial. Esses dois fenômenos impactam de forma significativa a temperatura e precipitação à nível mundial. O El Niño provoca secas severas nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, e o La Niña aumenta a formação de chuvas nessas regiões. Na região Sul do Brasil, o El Niño provoca maiores volumes de chuva e o La Niña atua de forma contrária com menores volumes de precipitação.
O fato positivo é que já existe consenso quanto a existência desses fenômenos climáticos. Só não há consenso mesmo entre os países, principalmente entre os mais ricos da economia mundial. Em torno de 196 países assinaram o Acordo de Paris. Eles assumiram o compromisso e se comprometeram em tomar medidas para redução de emissão de dióxido de carbono. Mas Donald Trump, o futuro presidente eleito dos Estados Unidos da América, já afirmou em declaração à imprensa que não irá cumprir esse Acordo. A China e Rússia assinaram o Acordo, mas pouco fazem para reduzir suas emissões de gás carbônico. Acontecerão a 29ª COP (Conference Of Parts) da ONU, em Baku, no Azerbaijão, ainda em 2024 e a 30ª COP, agendada para 2025, no Brasil, no estado do Pará, em sua capital Belém. Certamente que ocorrerão nessas duas COP’s muitas discussões e negociações globais importantes sobre as mudanças climáticas. Acredito que iremos assistir muito jogo de cena, um verdadeiro “enxuga gelo” principalmente por parte dos países mais ricos e que mais poluem no mundo. A mitigação a ser feita seria reduzir as emissões por fontes produtoras de gases de efeito estufa e fortalecer a preservação de nossas florestas e oceanos. Mas isso a maioria dos países mais ricos não pretende e nem tem interesse em cumprir. Programas de conservação da natureza já deveriam estar sendo implementados para atingir as metas já estabelecidas em outras conferências mundiais. A causa é muito nobre – é a preservação da natureza, da vida e do homem! Portanto merecem cuidados redobrados, afinal a natureza, a vida não tem preço.
Á propósito foi confirmado na semana passada que o ano de 2024 será o mais quente em que se já tem registro, sendo o primeiro ano com mais de 1,5ºC acima da temperatura pré-industrial, de acordo com o conjunto de dados ERA5. Isto é um novo marco nos registros de temperatura global e deverá servir como um catalisador para aumentar a ambição para a próxima Conferência sobre Alterações Climáticas, a COP 29”, afirmou Samantha Burgess, diretora do C3S (Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas). Para o climatologista Carlos Nobre, “os dados são graves e preocupantes…a ciência ainda está tentando explicar o aumento acelerado da temperatura média global e procurando mecanismos que façam esses valores diminuírem…” Cientistas e estudiosos do clima têm alertado através de estudos importantes sobre as agressões desenfreadas ao meio ambiente e mudanças climáticas causadas pela ação do homem em todas as regiões de nosso planeta. Mas mesmo assim o homem faz ouvidos moucos e continua destruindo tudo! Será que o homem ainda tem a mesma capacidade de raciocínio como pensou e afirmou Aristóteles e outros filósofos? Ou está aguardando uma solução mágica para as mudanças climáticas por meio da inteligência artificial (IA)?
Ataíde Vilela, engenheiro civil, foi prefeito de Passos nas gestões 2005/2008 e 2013 a 2016.