2 de fevereiro de 2024
Filme que estreia esta semana faz sátira com agentes secretos do cinema./ Foto: Divulgação / Universal Pictures.
CINEMA
Matthew Vaughn é um cineasta que gosta de rir, se divertir e fazer paródias em cima de certos subgêneros que já começam a virar uma piada por si só. Ele já deu risada do cinema de super-heróis (Kick-Ass) e, principalmente, do cinema clássico de espionagem ao melhor estilo James Bond (com os filmes Kingsman). Agora, ele direciona seu humor para o cinema de agentes secretos com “Argylle: O Superespião”, que estreou nos cinemas na última quinta-feira, 1º, com Bryce Dallas Howard, Sam Rockwell, Henry Cavill e participações especiais de Dua Lipa, Ariana de Bose, John Cena e Samuel L. Jackson.
Aqui, acompanhamos a história de Elly Conway (Bryce Dallas Howard), escritora de filmes de espionagem que, da noite para o dia, se vê envolvida em uma trama muito parecida com a de seus livros quando Aidan (Sam Rockwell), um agente especial, surge em sua vida. Criatividade aguçada ou dom premonitório? É isso que o filme busca resolver.
Na superfície, Argylle é um filme divertido. Assim como Vaughn soube redimensionar os absurdos dos heróis e dos espiões, aqui ele sabe colocar o ridículo das histórias sobre agentes secretos em outra escala.
Seja pela forma tosca que retrata o principal espião (na dicotomia divertida entre Rockwell e o agente idealizado vivido por Cavill) ou, então, por piscadelas sobre coisas que acontecem nessas histórias, como beijos apaixonados.
O elenco também ajuda muito a criar esse clima de paródia sem ser, exatamente, uma paródia: há um tom lúdico na criação de Bryce Dallas Howard (Jurassic World) e de Rockwell (Três Anúncios para um Crime), que dão dimensão desses absurdos que aprendemos a aceitar – e até mesmo a gostar – das histórias sobre espionagem e agentes.
O grande problema de Argylle não reside na direção, tampouco no elenco. Mas no roteiro desastroso de Jason Fuchs, que antes tinha créditos como roteirista em filmes como “Mulher-Maravilha”, “A Era do Gelo 4” e “IT: A Coisa 2”.
Enquanto Vaughn tem uma direção divertida, Fuchs não sabe exatamente como contar boas piadas e, principalmente, não sabe quando parar. Parece que ele fica preso em uma ideia do começo ao fim, sem intervalos.
A piada? Há tantas reviravoltas no filme que você começa a se perder no emaranhado de histórias. E não, isso não é uma coisa boa. Uma reviravolta pode surpreender, duas podem te deixar vidrado se forem muito bem escritas. Mas cinco, seis?
O filme começa a se desconectar. Aqui, mais especificamente, você se vê cada vez mais longe de Elly, que simplesmente deixa de existir na história para se tornar um motor desses plot twists descabidos.
Os personagens mudam de identidade exageradamente. Primeiramente, isso se revela como uma sacada divertida e que faz graça com histórias de John le Carré, brincando com a linha que separa um escritor de espionagem de um espião – e, acima de tudo, sobre aquelas tramas de agentes com dupla identidade ou até tripla, como acontece no filme “Atômica”. Mas a piada é tão repetida que o filme não tem mais clareza do que está contando.