PASSOS – Antônio Carlos Martins, de 53 anos, e Janaína Pérccia Martins, de 40 anos, são cegos e relatam que a chegada do filho Victor Hugo Martins, de seis meses, tem gerado uma onda de capacistimo contra o casal. Janaína afirma que, após a descoberta da gravidez, familiares começaram a questionar a capacidade deles cuidarem do filho.
“Na hora, minha mãe não queria nem saber. Mostrei pra ela, mas ela achou que era mentira. Ela disse que eu não poderia ter arrumado filho por ser deficiente. É preconceito, e isso é muito ruim. A gente é normal igual aos outros”, desabafa Janaína.
Segundo Antônio, a família do casal decidiu que o bebê deveria crescer sob tutela dos demais familiares até o primeiro ano de vida. Ele disse que, após o aniversário de um ano de Victor, apelidado de Hulk, o bebê terá mais firmeza no corpo, assim o casal estará mais apto para cuidar da criança.
Pelo menos três dias da semana Janaína dorme na casa da irmã Rosa, que cuida do bebê. Ela comenta que não é fácil ficar distante do filho de apenas seis meses. “É meu sonho ter ele aqui em casa correndo, pulando em cima de nós… Eu sonho com ele toda noite. É dolorido demais. Ele é o grande amor das nossas vidas”, disse.
Segundo Janaína, a infantilização de pessoas com deficiência é um fator prejudicial para o desenvolvimento de qualquer adulto com deficiência. “Quando é deficiente, as nossas mães nos tratam como se a gente fosse criança, esquecem que a gente cresceu. Isso é ruim pra todo mundo que tem a deficiência, porque em vez de ajudar a seguir sua vida e tentar, isso atrapalha. Se a gente não tentar, a gente não vai saber se vamos conseguir”, ressaltou.
Conforme o casal, as pessoas ainda são “ignorantes” quando dizem que, no futuro, receberão cuidados do filho pelo fato de o bebê não ter deficiência visual. Segundo Janaína, ela e o marido têm responsabilidade o suficiente para cuidar do próprio filho. “A gente que veio para cuidar dele, e não ele de nós. Queremos cuidar com todo o carinho que temos por ele”.
O casal também aponta a necessidade de aumentar a acessibilidade nos espaços públicos em Passos. “Precisava colocar braile nos lugares, piso tátil, corrimão. Isso vai ajudar a melhorar bastante”, disse.