Rafael Marcon
PASSOS – O Sindicato dos Empregados no Comércio de Passos e Região (SindCom) avalia que, no curto prazo, não deve haver demissões na Lojas Americanas em Passos e que um possível fechamento da unidade não deve causar grande impacto na economia local.
“Estive em reunião com o setor de Recursos Humanos (RH) da Lojas Americanas de Passos. A princípio, a loja não pensa em demissão e nem em fechamento. Até o momento, todas as parcerias da loja e parcerias com os sindicatos estão como antes, sem nenhum problema. A esperança é que nem afete o funcionamento da loja, já que, por enquanto, não há previsão de cortes de salários ou empregos”, disse o presidente do SindCom, Davi de Oliveira.
Com dívida estimada em R$43 bilhões, 16,3 mil credores e cerca de R$800 milhões em caixa, a gigante do varejo entrou em recuperação judicial após escândalo financeiro que tem abalado o mercado no país. Segundo informações da empresa referentes ao ano de 2021, são cerca de 44 mil funcionários, sendo 85% permanentes e 15% temporários em 1,7 mil lojas no país. Em Passos, são cerca de 30 trabalhadores.
De acordo com Oliveira, futuramente, caso a loja passe por cortes devido à crise, a economia do município não deve sofrer grande impacto. “A Americanas é uma grande empresa. Qualquer fechamento de loja deste porte implica em alguma coisa no mercado. Com certeza prejudicaria a economia, mas Passos é uma cidade em pleno desenvolvimento, com outras diversas empresas e outras diversas lojas. O impacto não seria tão grande”, disse Davi.
Rombo
Em 11 de janeiro, após o fechamento do mercado, o ex-Ceo da empresa, Sergio Rial, que estava no cargo há nove dias, renunciou após anunciar “inconsistências contábeis” no valor de R$20 bilhões. Desde então, bancos e credores entraram com ação na Justiça para receber dívidas e bloquear recursos da empresa e fornecedores passaram a encarar calotes. As ações da empresa, que estavam cotadas em R$12 antes do rombo, chegaram a cair para R$0,71.
Após a entrar em recuperação judicial, no dia 19 do mês passado, as Lojas Americanas devem apresentar, em 60 dias a partir da data da entrada, um plano de recuperação sob supervisão da Justiça e que deverá ser aprovado pelos credores. As dívidas serão congeladas por 180 dias e a varejista pode continuar operando. A lei não impede que empresas em recuperação judicial demitam funcionários. Em caso de demissão, a verba rescisória não entra na dívida a ser negociada e deve ser paga no prazo normal de dez dias.
Nos últimos dias, o temor de calote em fornecedores da Lojas Americanas aumentou e, devido à dificuldade no abastecimento, a companhia deu início a um processo de realocação de estoques entre as lojas. A expectativa é que ao menos 30% dos pontos de venda sejam fechados para reduzir custos fixos com aluguel e pessoal.
Até o momento, a maioria dos cortes de pessoal foram de serviços indiretos, na área de Tecnologia da Informação, mas a previsão é que se estenda para os contratados em regime CLT. Em São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro, algumas unidades já iniciaram cortes, e alguns funcionários CLT com menos de um ano de trabalho já foram demitidos.
Na última sexta-feira, a empresa informou a representantes de sindicatos de comerciários que não vai promover demissão em massa ou fechamento de lojas até 19 de março, data limite para apresentar o plano de recuperação judicial ao TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro).
Trabalhadores e sindicatos fazem protestos em capitais
BRASÍLIA – Neste sábado, 3, funcionários das Lojas Americanas e membros de sindicatos trabalhistas se encontraram na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, para defender os direitos dos trabalhadores diante da crise que a empresa enfrenta. Além do Rio, as manifestações aconteceram também em outras capitais, como São Paulo e Porto Alegre.
Segundo informações da Agência Brasil, participaram do ato na Cinelândia integrantes do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro, da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e da União Geral dos Trabalhadores (UGT). Entre as pautas, estão a negociação de parcerias com bancos de empregos para recolocar funcionários caso as demissões em massa sejam inevitáveis, afirma o presidente nacional da UGT, Ricardo Patah.
Representantes sindicais devem se reunir com a alta cúpula da Lojas Americanas para discutir a situação e tentar definir um plano de reestruturação que cause o menor impacto possível no emprego dos funcionários.
No último dia 25 de janeiro, sindicalistas ajuizaram uma Ação Civil Pública, na 8ª Vara do Trabalho de Brasília, com o pedido de execução do patrimônio pessoal dos acionistas de referência da Lojas Americanas, Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, para o pagamento de dívidas trabalhistas.
A ação, independente do processamento da recuperação judicial, solicita que se desconsidere a personalidade jurídica da Americanas e responsabilize os acionistas de referência. O pleito demanda o bloqueio do valor de R$1,53 bilhão nas contas pessoais dos três, para garantir que os trabalhadores recebam os valores a que têm direito, independentemente da reestruturação.