Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho
Melhorar a qualidade de vida raramente é obra de sorte ou de grandes viradas de cena. É trabalho de quem sabe lidar com o tempo e os detalhes. Feito no compasso dos dias, com ajustes pontuais, paciência… e, claro, com um pouco de ousadia
A vida, essa professora incansável, entrega suas lições de formas inesperadas. Às vezes, o aprendizado chega feito uma brisa numa tarde preguiçosa; outras, desembarca com a força de um temporal que arrasta certezas e derruba seguranças. Mas sempre chega.
As oportunidades, dizem os mais antigos, são como cavalos arreados: passam uma vez, e é preciso montar no tempo certo. Quem hesita, vê o animal desaparecer na curva da estrada. Não por acaso, a velha canção de Vandré avisa: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
Há quem se arrisque. E, ao arriscar, caia. Porque os tombos fazem parte da travessia. Mas é no chão, com a poeira grudada na pele e no rosto, que muitas vezes se aprende o que livro algum é capaz de ensinar.
Cada rua, cada esquina, cada desvio inesperado vira sala de aula. A escola da vida tem muitos endereços: numa conversa distraída, no olhar pela janela do ônibus, no banco de uma praça ou no silêncio de uma noite sem sono. O recreio? Talvez aquele instante em que a saudade se mistura ao gosto doce de um sonho antigo.
Revisitar os próprios passos, reorganizar tropeços, dar novo sentido aos caminhos percorridos… tudo faz parte. As metas precisam ter cheiro de verdade. O trabalho, um propósito que faça o coração bater mais forte.
Palavras como inteligência emocional, humildade e resiliência soam bonitas, mas só ganham valor quando deixam o discurso e viram prática. Conhecer a si mesmo é um começo. Respeitar o outro é um desafio maior. E o mais difícil: saber onde termina o espaço de um e começa o do outro.
A matemática da harmonia é simples: dois mais dois continuam sendo quatro. Respeito não se impõe. Cultiva-se. E, quando floresce, contagia.
Muitos alcançam destaque e holofotes, mas poucos estão prontos para a claridade que eles trazem. Há quem confunda brilho com plenitude, aplauso com realização. Faltou chão. Sobrou ilusão.
Viver de verdade é mais do que colecionar conquistas. É estar inteiro na construção de um mundo mais leve, começando pelos pequenos gestos, pelas relações mais próximas, pelas escolhas silenciosas de cada dia.
Não há paz onde não há justiça. Uma nação só encontra dignidade quando seu povo aprende a ser operoso, honesto e comprometido com o bem comum.
Ainda estamos longe disso. As distorções que nos cercam são profundas.
Mas a esperança… essa teima em ficar.
Sempre haverá quem decida, com coragem, montar o cavalo da transformação, mesmo sabendo dos riscos da queda.
Porque, no balanço final… é assim: a vida ensina. Sempre. Há os que aprendem, os que fazem de conta… e os que, simplesmente, cruzam os braços.
Cada um com a sua escolha.
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho é advogado e cronista. (luizgfnegrinho@gmail.com)