Opinião

A Palestina de Josué a Netanyahu*

5 de outubro de 2024

foto: Reprodução

ESDRAS AZARIAS DE CAMPOS

Hoje vou tratar de um tema muito sensível por envolver religião, racismo, guerra, genocídio e política tudo junto e misturado. Trata-se dos conflitos “israelense/palestino”. Desde a antiguidade que o exíguo território da Palestina se tornou estratégico por ter sido rota militar e comercial entre poderosos impérios do Oriente Médio e atualmente por ser também território estratégico para as potências econômicas mundiais, por ser o epicentro da região mais rica de petróleo do mundo. Além disso, por se tornar “terra sagrada” para dois povos semitas, árabes e judeus, que por questões tradicionais e culturais se consideram descendentes do povo hebreu, filhos do mítico patriarca Abraão, conforme as narrativas bíblicas.  

Os semitas um grupo étnico de origem única, no entanto foram se diversificando e formando povos e nações diferentes e rivais entre si. E entre esses povos desde a antiguidade, as guerras apresentam características de ódio racial e fratricida. As guerras eram ordenadas pelos deuses. Com a morte do líder hebreu Moisés, o guerreiro Josué se tornou líder militar dos israelitas e iniciou a conquista de Canaã prometida por Deus. No livro de Josué capítulo 8, começa assim: “Então disse o Senhor a Josué: Não temas, e não te espantes; toma contigo toda a gente de guerra, e levanta-te, sobre a Ai; olha que te tenho dado na tua mão o rei de Ai e o seu povo, e a sua cidade, e a sua terra. E termina assim em Josué, 8:25-26 – o total dos que morreram naquele dia foi de 12 mil, todos da cidade de Ai. Josué não retirou a mão que ele tinha levantado com a sua lança, até que foram mortos todos os habitantes da cidade”. A regra é eterna – guerra é terrorismo. Veja também Josué na tomada de Jericó. “No 7º dia, o restante do exército israelita se junta aos trombeteiros com gritos de guerra. Parte das muralhas vem abaixo – todo o morticínio se repete, segundo a Bíblia, um milagre de Deus.” Chega a ser tragicômica essa saga bíblica, pois Javé prometeu aos israelitas uma terra ocupada por outros povos que tiveram de ser exterminados. Na Idade Média, entre os séculos XI ao XIII, com as Cruzadas chamadas de guerras santas, nas quais, cristãos e muçulmanos se mataram uns aos outros aos milhares para defender ou conquistar a “terra santa”, e especificamente a cidade santa Jerusalém.  

Se passaram 3.200 anos, entre Josué e a criação do novo Estado de Israel na Assembleia Geral da ONU de 1947. Ou seja, o território palestino foi dividido para a criação de dois Estados, o Estado de Israel e o Estado Palestino. Mas foi e continua sendo negado aos palestinos de origem árabe a criação do seu Estado. Desde então os conflitos entre árabes e israelenses foram se aprofundando. A Primeira Guerra Árabe-israelense aconteceu entre 1948 e 1949 e outras quatro guerras aconteceram com derrotas árabes na segunda metade do século XX. As organizações paramilitares dos palestinos tais como o Hamas e o Hesbollah recebem apoio do Irã, país não árabe, porém, muçulmano. Israel recebe integral apoio dos EUA, que tem grande interesse em exterminar o Irã assim como fizeram com o Iraque. A Palestina vem sendo causa de guerras através dos milênios e o atual conflito israelense-palestino a se expandir provocará uma devastadora guerra mundial.  

* Benjamin “Bibi” Netanyahu, primeiro-ministro de Israel desde 2022. Responde a vários processos por corrupção pelos quais será condenado logo que deixar o cargo. Portanto, para Netanyahu, mais que para os israelenses, estender o atual conflito passou a ser de interesse pessoal para se manter no poder.  

ESDRAS AZARIAS DE CAMPOS é Professor de História