“Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe” – Mário Sérgio Cortella
Mais uma vez recorro a uma antiga parábola para iniciar minha reflexão: refiro-me à história do sábio e do papel lacrado, atribuída à tradição judaica, que traz uma profunda lição sobre a impermanência das emoções e das situações na vida.
Certa vez, um sábio foi procurado por alguém enfrentando grandes dificuldades. O sábio entregou-lhe um pequeno papel lacrado e disse: “Guarde este papel. Abra-o apenas em momentos de extrema alegria ou profunda tristeza.”
O tempo passou, e a pessoa enfrentou uma fase de imensa dor. Lembrando-se do conselho, abriu o papel e leu a frase: “Isso também passará.”
Anos depois, em um momento de grande felicidade, abriu o papel novamente e encontrou a mesma mensagem: “Isso também passará.”
Essa simples frase nos ensina sobre a transitoriedade das circunstâncias humanas, nos lembra da importância de manter humildade, serenidade e postura austera.
Essa lição cabe perfeitamente ao Brasil de hoje. Vivemos um momento marcado por desequilíbrios entre os Poderes, perseguições políticas disfarçadas de justiça, privilégios inaceitáveis e um governo que parece administrar mais pensando em votos do que em soluções reais.
O descontrole das contas públicas é evidente. Enquanto a inflação corrói o poder de compra da população, assistimos à farra com o dinheiro público. Estatais, que deveriam ser eficientes, voltaram a registrar prejuízos astronômicos, enquanto patrocinam eventos como o famigerado “Janjapalooza”, um show de vaidades que custou R$ 33 milhões aos cofres públicos. Além disso, os “superempresários” do passado ressurgem, agora com novos CNPJs, beneficiados por contratos duvidosos.
A reforma tributária, tão aguardada, parece penalizar ainda mais quem trabalha e produz, concentrará o Poder nas mãos do Governo Federal aniquilando Estados e Municípios, enquanto mantém intactos privilégios históricos. Na saúde, a fila por atendimentos cresce, e o caos nos hospitais públicos reflete a ineficiência da gestão federal. Na educação, os resultados do IDEB continuam decepcionantes, enquanto o governo prioriza pautas ideológicas que não dialogam com as salas de aula.
Por outro lado, a segurança pública está à deriva, com políticas que desmotivam as forças de segurança e deixam a população refém da violência crescente. Tudo isso sem contar a gastança absurda das viagens oficiais, os exageros na decoração e mobiliário do Planalto e a mais recente cachoeira artificial da Granja do Torto, para encantar a “nouveau rich”, Rosângela Lula da Silva, vulgo Janja. Uma verdadeira esbórnia!
A sensação de abandono é generalizada, mas, para quem mais sofre sob esse desgoverno, fica o alvissareiro lembrete: “Isso também passará.”
Em Passos, o cenário local reflete os mesmos problemas
Aqui, a situação não é diferente. O Excelentíssimo Senhor Doutor Prefeito Diego Rodrigo de Oliveira, reeleito com quase 90% dos votos, surfa em sua popularidade, mas pode enfrentar os desafios de uma gestão descompassada.
Blindado pela mídia local, graças ao uso estratégico de verbas públicas, o governo municipal eliminou o espaço para críticas e oposição. No entanto, com o fim da lua de mel eleitoral, problemas graves deverão vir à tona.
O sistema de saúde colapsa, com cerca de 50 mil exames, consultas e cirurgias eletivas represadas. A epidemia de dengue, fruto de uma gestão sanitária ineficaz, atinge níveis alarmantes. Obras de pavimentação apresentam falhas gritantes, a coleta de lixo sempre irregular, e licitações mal elaboradas escolhem empresas desqualificadas.
Além disso, a falta de fiscalização na execução dos contratos e a lentidão no atendimento às demandas da população, tornam a gestão cada vez mais questionável.
A correção de curso de um governo somente ocorre quando aqueles que têm a missão de fiscalizar atuam corretamente. Mas a “sagacidade” do nobre alcaide, desarticulou as autoridades responsáveis por exercer tal fiscalização, utilizando o velho, asqueroso, mas eficaz “toma lá dá cá”, distribuindo cargos e nomeando parentes e indicados dessas autoridades, carimbando definitivamente, no peito de Sua Excelência o emblema da velha e carcomida política herdada dos coronéis.
Por quanto tempo a população tolerará esse cenário e persistirá aplaudindo?
A verdade é que, seja em Passos, seja no Brasil, todas as ações – ou omissões – têm seu preço. Mais cedo ou mais tarde, a conta chega. Que Sua Excelência tenha o cuidado de evitar que a euforia pela vitória ofusque a razão, fazendo com que se esqueça da lição da parábola: “Isso também passará.”
GILBERTO BATISTA DE ALMEIDA é engenheiro eletricista e ex-político, escreve quinzenalmente às quintas nesta coluna.