Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho
Machado de Assis é, sem dúvida, riqueza e glória da literatura clássica nacional. Quanto a isso, não há o que discutir. Como dizem, um divisor de águas.
Pinçar um de seus livros de grande valor e sucesso para avaliar qual é o melhor e o mais significativo não é tarefa fácil para especialistas.
Acabo de tomar conhecimento de que uma das dedicatórias mais conhecidas da nossa literatura virou febre na internet e ganhou diferentes matizes e versões.
Diz respeito a uma frase, para muitos, a mais eloquente dentre o gênero realismo clássico: “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico com saudosa lembrança estas memórias póstumas”.
Escrito em 1881, a obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas” parece tomar dianteira entre as demais. E foi através das redes sociais que se redescobriu o grande romance do mestre da literatura, Machado de Assis.
O brasileiro lê pouco e desconhece a grandeza dos nossos escritores. É preciso chegar à mesa e ao gosto da juventude o prazer da leitura. Fala-se tanto, mas não ligam a mínima. Nunca é demais. O ato de ler é maravilhoso. Amplia horizontes, aumenta a imaginação, melhora o vocabulário, enriquece estilos, faz com que tenhamos pensamentos críticos mais aguçados. Assim como possibilita um toque sutil motivacional de valor incalculável. Mais: sem contar que faz bem para a saúde física e da alma.
Nessa semana, com sério problema no aparelho celular (caiu e trincou o vidro), a meu pedido, um jovem de 14 anos apareceu no escritório para dar jeito e recuperar os meus contatos.
Vendo-o fazer com maestria a operação resgate, cuidei de perguntar-lhe qual sua matéria preferida na escola. Sem vacilar, apontou a matemática.
Não deixei por menos, e segui: — “E o português, a literatura, o ato de ler em si, não curte?”.
Como resposta o que ouço sempre. Lê o básico, no seu caso, o que diz respeito à informática, à técnica dos aparelhos infernais dos quais somos reféns e cativos. Obras literárias, mesmo, não. Literatura clássica — nem de longe. Não é sua praia.
Assim que me entregou o aparelho, contatos restaurados, fiz questão de não aconselhar. Ninguém gosta de conselhos. Fosse bom, nem precisa dizer.
No entanto, lembrei-lhe de passagens de autores de livros famosos que se destacaram depois de muito esforço com a literatura. Por fim, muitos dos quais tomaram assento na galeria de sucesso, com a obtenção de títulos e carreiras brilhantes.
Uma das dicas foi exatamente Machado de Assis. Romancista e escritor em comento. Machadinho abordou temas relevantes e que elevam o homem na sua condição humana. E num estilo inconfundível, analisou o ser humano e seu relacionamento social com ironia, objetividade e talento.
Sem querer, já querendo, recomendei ao garoto que lesse de tudo e não se esquecesse dos clássicos da literatura brasileira.
Jovem promissor, conhece como ninguém as boas técnicas da informática, porém não dá notícia de Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, José de Alencar, Ariano Suassuna, Clarice Lispector e Adélia Prado. Esta última, poetisa mineira de renome, ela que possibilitou ao Governador Zema passar por chacota quando de um podcast numa emissora de rádio em Divinópolis. De fato, Adélia não trabalha e nunca trabalhou em veículos de comunicação.
O registro e a homenagem à geração Z ou Digital. No útil e agradável, a boa qualidade de vida seria muito melhor fosse possível enquadrar a riqueza poética de Drummond ao mundo tecnológico dos dias de hoje. Com certeza, bem mais ajustado do ponto de vista humanitário, artístico e cultural.
Permitir que borboletas em profusão declamem versos encantados por todas as portas e janelas.
PS: Para Rodrigo Moraes, para quem o mundo se descortina.
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho, advogado, escreve aos domingos nesta coluna. (luizgfnegrinho@gmail.com)