ESDRAS AZARIAS DE CAMPOS
Todo cuidado é importante com a evolução, a priori há uma tendência em confundir como sinônimo de melhoria, ou passar de um estágio inferior para um estágio superior. Sim, às vezes acontece nessa ordem também. Mas é necessário ao usar o termo evolução identificar o contexto, para saber se algo evoluiu para melhor ou se apenas evoluiu ao passar por um processo de mutação em sua estrutura, porém continua sendo o que era. Exemplo, no caso da evolução dos primatas para os seres humanos, o que mudou de fato foram algumas características físicas, cognitivas e biológicas nos humanos, porém o ser humano continua sendo parte das espécies dos primatas. Estabelecer que tal evolução foi para melhor é conceito baseado em juízo de valor, qualidade esta adquirida por nós humanos a qual usamos neste caso, para nos considerarmos melhores e superiores sobre as demais espécies existentes. O tratamento do conceito evolução para processos sociais, educacionais, relações humanas, jurídicas e políticas, nem sempre significa que será para melhor, até porque tais processos evolutivos estão sempre sujeitos a retrocessos. No Brasil evoluímos para o regime democrático no século XX e neste mesmo século a nossa democracia sofreu dois longos retrocessos, a saber, a ditadura Vargas de 1930/1945 e a ditadura civil-militar de 1964/1985.
A evolução política e social implica na revolução da mentalidade do povo, também dos políticos que formam a categoria representativa da população nos poderes da República. Acompanho há seis décadas a evolução política brasileira, portanto, como testemunha ocular da história posso atestar que a política do Brasil apresenta um verdadeiro efeito gangorra. Explico. Quando você pensa que o nosso povo e os nossos políticos estão se desenvolvendo em conscientização política e social rumo ao progresso, portanto no lado alto da gangorra, em questão de uma década ou menos, este lado abaixa e sobe o lado do retrocesso. Da segunda metade do século XX para a atualidade, o Brasil atravessa três etapas políticas: 1ª. – Pós ditadura Vargas (1946/1964). Este período se iniciou com o “Queremismo”, movimento populista espontâneo exigindo a permanência de Getúlio Vargas no poder, resquícios do getulismo é a marca registrada dessa época.
Após os 15 anos da ditadura Vargas se inicia novo ciclo da democracia, com criação de vários partidos políticos disputando a eleição presidencial. A polarização política se dará entre os partidos criados por Getúlio, o PSD e o PTB de um lado e do outro a UDN, partido das alas mais conservadoras do país. Das quatro eleições desse período, o PSD/PTB venceram três: Mal. Eurico Gaspar Dutra em 1946/1950, Getúlio Vargas,1951/1954, Juscelino Kubitschek, 1956/1960. E a UDN na eleição de 1960 com Jânio Quadros, que renunciou ao cargo em 25 de agosto de 1961. A característica das disputas entre tais forças políticas se prendia a dois fatores. A perpetuação dos poderes e dos privilégios da aristocracia brasileira. E do medo dos movimentos das novas forças populares de cunho esquerdista exigindo mudanças econômicas com justiça social. O acirramento ideológico se tornou inevitável. Como também uma mobilização fascistóide visando ditadura. As rivalidades entre o mundo Ocidental capitalista e Oriental Socialista iniciaram uma guerra de propagandas de seus respectivos regimes políticos chamada “Guerra Fria”, responsável pela polarização ideológica entre capitalismo x socialismo. E mais, mundo em mudanças com movimentos populares vanguardistas tanto nos costumes com a chamada revolução sexual, a sociedade alternativa dos hippies, o movimento feminista e o LGBT, as lutas antirracistas, como também novos caminhos nas artes em geral, especialmente na música, ecoaram por todas as nações e chegaram ao Brasil, para desespero do conservadorismo retrógado e anacrônico brasileiro.
PS: As sequências 2ª e 3ª etapas serão publicadas oportunamente.
ESDRAS AZARIAS DE CAMPOS é professor de História