Opinião

A elite e as “elites” do Brasil

31 de maio de 2025

Esdras Azarias de Campos

“Elite cultural não é tão diferente da Faria Lima”, esta afirmação é o título de um artigo publicado no “Uol” do dia 20 de maio último, do colunista da Folha de São Paulo, Michael França. O articulista tenta demonstrar que não há diferença no comportamento do que ele chama de “elite cultural”, com o comportamento da elite brasileira, que tem em um de seus referenciais a Av. Brigadeiro Faria Lima em São Paulo.

O substantivo feminino elite, na sua origem semântica, se refere à classe social que detém o poder político e econômico da nação. E assim está nos estudos e análises das disciplinas históricas, sociológicas e econômicas ao diferenciar povo de elite. Até mesmo na literatura, os romancistas fazem essa distinção entre elite e povo.

De uns tempos recentes passaram a vulgarizar o termo elite, a tal ponto que existe “elite” até nas camadas pobres, ou seja, a elite dos pobres seria a classe média. Elite passou a ser sinônimo de liderança em qualquer atividade. Hoje em dia, o termo elite serve para identificar grupos ou indivíduos em destaque no meio em que atuam. Daí a “elite do futebol”, “elite cultural”, “elite universitária”, “elite religiosa” e assim por diante.

E tal descaracterização tornou o termo elite com um sentido amplo que não possuía, mas passou a possuir. Elite tomou novo significado: o que é ou o que se considera o melhor ou o que tem mais valor em um grupo, em uma sociedade etc.; como sinônimos de escol, fina flor e nata. Então, a elite de fato agradece, porque assim ela se torna invulnerável às críticas e fica confundida ou escondida em meio a tantas “elites” por aí.

Sim, a vulgarização do termo elite é um fato; vai ao encontro do desejo do ser humano em se ascender à elite do seu país. A elite de fato é a que tem poder econômico para sustentar sua influência política de mando maior sobre a nação e o povo. Daí vulgarizaram o termo e hoje existe “elite” em profusão, até em uma comunidade de favela, por exemplo! Ou a “elite” do crime organizado, tais como o PCC e o Comando Vermelho.

Tem também a “elite” dos “influencers” nas redes sociais. A maioria dessa novel categoria social adquiriu, nas últimas duas décadas, um poder de comunicação a ponto de influenciar nas eleições para legislativo e executivo. O “mito” que chegou à presidência em 2019 se deve, em grande parte, à sua eleição às fake news viralizadas aos milhões por minuto na Internet.

Vários “influencers” divulgadores de fake news, das redes sociais, foram os candidatos a deputados mais votados com milhões de votos nas eleições de 2022. Temos um destaque desse tipo de “influencer” aqui em Minas, o deputado federal Nicolas Ferreira (PL), eleito com um milhão e meio (aproximado) de votos. E ele continua produzindo fake news.

Enfim, quem é a elite de fato no Brasil? É a classe dominante chamada burguesia, que é a proprietária, isto é, os donos dos meios de produção (das fábricas, dos bancos, das minas e dos latifúndios)! São também os proprietários das organizações da chamada grande imprensa e das redes de televisão transmissoras e defensoras das opiniões da classe dominante.

Então, caro leitor, se você não é banqueiro, empresário das grandes corporações do agronegócio, industrial, mercadológico e financeiro, ou dono de mega denominação religiosa, você não faz parte da elite nacional. Assim como eu e mais 95% dos brasileiros ficamos perambulando pela base da pirâmide social, sem nenhuma possibilidade de atingir o vértice.

Esdras Azarias de Campos é Professor de História