27 de julho de 2024
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ESDRAS AZARIAS DE CAMPOS
Um antigo ditado diz “Quem avisa amigo é”, pois então a realidade política atual está mandando um aviso, ou recado, de que a direita brasileira será engolida pela sua coirmã “extrema direita” hoje representada pelo bolsonarismo. A situação política atual demonstra claramente que a direita usa o Bolsonaro e o Bolsonaro usa a direita, ambos usufruindo de um oportunismo político desvairado, porque a direita há muito tempo que não apresentava um político populista capaz de enfeitiçar as massas, então entrou de cabeça na onda bolsonarista dede 2017. E por outro lado, Bolsonaro não conseguiria alçar maiores voos sem o apoio dos partidos da direita, como se sabe, são os representantes dos verdadeiros donos do país. A direita brasileira como qualquer espectro ideológico tem suas nuances. E hoje não há dúvida, de que o bolsonarismo é a ala extremista da direita brasileira.
“Toda unanimidade é burra” como dizia o saudoso Nelson Rodrigues, mas há pelo menos uma exceção, pois todos concordam de que o embate de ideias é o pressuposto essencial para a convivência democrática. Todos, exceto para os que adoram o autoritarismo. E o bolsonarismo tem como base ideológica predominante além claro, de associar falsas narrativas em defesa da família, do patriotismo, do conservadorismo, mas sobretudo, com reais elementos neofascistas. A direita brasileira, tradicionalmente, apresenta um viés golpista, podemos aqui lembrar de várias tentativas de golpes. Entre os mais relevantes foi a tentativa para impedir a posse de Juscelino Kubitschek como presidente em 11/11/1955. Outra tentativa contra o Jânio Quadros, em agosto de 1961, que o levou à renúncia do cargo de presidente e finalmente, o golpe em 1964, que depôs o presidente João Goulart, do qual golpe se seguiu à ditadura civil-militar com duração de 21 anos. Portanto, como diz o ditado “Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”. Daí que o cenário político, apesar de modificado com a eleição de Lula em 2022, no entanto, não diminuiu o ímpeto bolsonarista de tentar com novas artimanhas para um golpe. A última cartada felizmente também falhou quando as hostes bolsonaristas, em 08/01/2023, invadiram e vandalizaram as sedes dos Três Poderes em Brasília. Uma ousadia com claro propósito de provocar uma crise institucional, imaginando levar as Forças Armadas a tão desejada intervenção militar e sacramentar o golpe.
No atual contexto político, não dá para prever nem mesmo fazer suposta previsão sobre o futuro até porque se trata de uma tarefa indigesta. Neste sentido, podemos apenas concluir, se o bolsonarismo não é ideologicamente nazista, ele se constitui em uma linguagem típica de valores pós-fascistas e pós-nazistas. E a direita brasileira como um todo está se iludindo ao imaginar que com Bolsonaro poderá determinar as coordenadas políticas e de governo, caso hoje impensável, devido a condição de inelegível do ex-presidente. Mesmo assim, a direita se sente a depositária e por que não, proprietária do bolsonarismo. Mas é o contrário que está acontecendo, pois é o bolsonarismo que está engolindo as demais alas da direita. Afinal, com o bolsonarismo, o Brasil se tornou o país onde a extrema direita mais cresceu no mundo desde 2019. Então, a direita brasileira está alimentando um bicho que certamente provocará sua metamorfose em total extrema direita. E o pior de tudo isso é que talvez nós estejamos perdendo a capacidade de como combater o neonazifascismo no Brasil.
ESDRAS AZARIAS DE CAMPOS é Professor de História