Aldo Rebelo
A ordem mundial é o conceito que surge da necessidade de organizar o caos e a desordem após uma guerra, revoluções ou colapsos de impérios, com a reconstrução das relações internacionais e a fixação de regras do jogo criado pela nova realidade. E aí surge a nova “ordem”. A origem da expressão é normalmente confundida com a Paz da Vestfália, assinada em 1648, que pôs fim à Guerra dos 30 anos (1618-1648), conflito que arrastou quase toda a Europa a partir de disputa religiosa dentro do Sacro Império Romano-Germânico.
A guerra das tarifas, iniciada pelo presidente dos Estados Unidos Donald Trump, contra a China, e a reação chinesa, ainda que em menor intensidade, apontam para o declínio da ordem mundial estabelecida após o fim da União Soviética, encerrando o equilíbrio da bipolaridade entre os Estados Unidos e a superpotência socialista.
A nova ordem que emergiu dos escombros da Guerra Fria apontava a globalização como novo renascimento de um mundo sem fronteiras para as mercadorias e para o capital, no qual a prosperidade estaria ao alcance de todos, e o mercado ergueria, com sua mão invisível, uma sociedade plena de liberdade e bem-estar material e espiritual.
Livre para voar, o capital bateu asas em busca de destinos onde melhor pudesse se multiplicar e gerar excedentes. Bateu asas inclusive dos Estados Unidos, o que explica o esforço do presidente Trump em reciclar a velha teoria protecionista dos “pais fundadores”, responsável pela industrialização da grande nação nos seus primórdios. Trump luta para trazer de volta o capital vadio que fugiu do Atlântico para o Pacífico e da América do Norte e da Europa Ocidental para a Ásia em busca de melhores ares.
É provável que o choque de tarifas provoque em alguma medida uma onda de inflação e recessão em todo o mundo. Como advertia Mateus em seu evangelho, haverá “choro e ranger de dentes”, em uma conjuntura bem ao estilo do mandatário norte-americano, na qual “os fortes fazem o que podem, e os fracos sofrem o que devem”, na famosa observação do historiador grego Tucídides sobre a Guerra do Peloponeso.
A ordem que se avizinha virá carregada de tumultos e incertezas e cada país contará apenas com seus próprios meios e terá que fazer a jornada caminhando com as próprias pernas. O trunfo do Brasil é a Amazônia brasileira: a maior fronteira mineral do mundo, a maior reserva de biodiversidade e de água doce, a maior fronteira agrícola e uma grande reserva de energia renovável, com sua gigantesca bacia hidrográfica plena de cachoeiras e corredeiras, fábricas quase prontas de pura energia verde.
A questão é que todos esses recursos estão bloqueados pelo governo e pelo próprio Estado brasileiro em um consórcio maligno que abarca autarquias como Ibama e Funai, ministérios como o do Meio Ambiente e o dos Povos Indígenas e parte de corporações como o Ministério Público e o Poder Judiciário. E então resta o desafio de remover tais obstáculos e fazer da Amazônia, com responsabilidade ambiental e social, o nosso grande trunfo em direção ao futuro.
Aldo Rebelo é jornalista. Foi presidente da Câmara dos Deputados, e ministro da Coordenação Política e Assuntos Internacionais, do Esporte, da Ciência, Tecnologia e Inovação, e da Defesa.