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A desativação da piscicultura de Furnas e a poluição do Mar de Minas e de Peixoto

Foto: Reprodução

Ataíde Vilela

Há cerca de um mês, foi noticiado pela Eptv/Globo, o aparecimento de grande quantidade de plantas aquáticas invasoras, na confluência do rio São João, com o Rio Grande, no município de Cássia. Naquele local, no Lago de Peixoto, estão localizados também diversos empreendimentos turísticos e uma colônia de pescadores. De lá, dezenas de famílias retiram o seu sustento com essas atividades. Agora, estão com seu “ganha pão” comprometido, em função do processo de eutrofização, como é conhecido esse desequilíbrio ambiental, que é provocado, principalmente pelo despejo e carreamento de esgotos sanitário e industrial e, de sedimentos químicos como adubos, defensivos agrícolas de lavouras.

Ocorre que existem municípios, localizados à montante dos Rios Grande, Sapucaí, Verde, Muzambinho, São João e de diversos outros cursos d’água, como: córregos, ribeirões, que despejam, esgotos sanitário e industrial, sem tratamento. Além disso, são carreados também sedimentos, como adubos e inseticidas de lavouras, nos Lagos de Furnas e Peixoto. Esse processo de eutrofização, é conhecido e está presente há mais de 30 anos, em nossos lagos.  A diferença, é que naquela época, quando ainda era funcionário de FURNAS, existia um Departamento de Meio Ambiente, em funcionamento. Ele era composto por pesquisadores e estudiosos, que realizavam constantes monitoramentos das águas, de diversos cursos d’água que compõem os lagos de Furnas, Peixoto, Estreito, Marimbondo, Itumbiara, Porto Colômbia, Serra da Mesa, Corumbá, Funil, etc. Além disto, acontecia anualmente o repovoamento desses lagos, com diversas espécies de peixes, quem eram reproduzidas artificialmente em laboratório, criadas naquela estação de piscicultura, até atingir certa idade e, posteriormente lançadas, de acordo com prévio calendário, nos diversos lagos, sendo tudo isto, amplamente divulgado pela imprensa regional, inclusive por essa Folha da Manhã.

Infelizmente, hoje nada disto acontece mais. A estação de piscicultura da usina de Furnas está totalmente desativada. Não faz o monitoramento das águas de seus diversos lagos, demitiram todos os seus funcionários especialistas, não produz espécie alguma de peixes e, claro, não fazem mais lançamentos deles, nos diversos rios, que formam os lagos de Furnas e Peixoto. Infelizmente, o caos está presente em nossos lagos, desde a privatização de FURNAS, ocorrida há cerca de 3 anos. Esse quadro, que já é preocupante, tende a piorar, ainda mais, pelas notícias, que temos, provocado, principalmente pelo abandono e sucateamento da estação de piscicultura. Estando totalmente desativada, não faz monitoramento da qualidade dessas águas, não produz mais peixes, não realiza mais repovoamento desses lagos. Pois, o que interessa mesmos, aos novos proprietários de FURNAS, é obter cada vez mais lucros e vultosos balanços financeiros.

Qual a solução para essa gravíssima situação?  O que os moradores daquela localidade, mais querem e com toda razão, é que esse problema seja resolvido e, de forma mais rápida possível. Mas, sabemos que o surgimento das plantas é apenas, um efeito. Qual a verdadeira causa do problema? O tratamento de esgotos sanitário e industrial precisa ser contido e resolvido, de forma rápida, evitando assim, que essas plantas aquáticas apareçam novamente. Mas, como resolver isto? A solução para isto, é construir ETE-Estações de Tratamento de Esgoto, em todos os municípios vizinhos aos Lagos de Furnas e Peixoto. Assim, tratando de forma adequada, os esgotos sanitário e industrial, antes de lançá-los nos lagos de Furnas e Peixoto. Dessa forma, diminuirá o processo de eutrofização nos diversos cursos d’água, córregos, ribeirões e rios que são afluentes do Rio Grande e, que formam os reservatórios de Furnas e de Peixoto, onde está acontecendo esse fenômeno, de aparecimento de plantas aquáticas invasoras. Os recursos financeiros, já estão disponíveis e aprovados pela Lei de desestatização de FURNAS/Eletrobrás, de nº 14.182, de 12 de julho de 2021, foi criado o Comitê Gestor da Conta de revitalização dos Recursos Hídricos da área de influência dos reservatórios de Furnas – CPR Furnas. No caso de Furnas, estão sendo destinados R$230 milhões por ano, durante 10 anos para essa finalidade, totalizando 2,3 bilhões de reais. O que está faltando, é vontade política, “arregaçar as mangas”, fazer os projetos das ETE’s e viabilizar as construções dessas obras, nos municípios carentes desses serviços.

ATAÍDE VILELA, engenheiro civil, foi prefeito de Passos nas gestões 2005/2008 e 2013 a 2016.

 

 

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