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A cultura do golpismo

 Opinião / ESDRAS AZARIAS DE CAMPOS

As origens em assumir o poder no Brasil através de golpes estão no DNA da nossa República. Como se sabe, nossa República nasceu de um golpe dado na decadente monarquia, que na verdade não tinha como continuar devido os seus pilares tais como o Exército, a Igreja Católica e até a aristocracia escravocrata se insurgiram contra o governo de D. Pedro II. Veja bem, daí os civis republicanos e os militares liderados por Benjamin Constant e Deodoro da Fonseca não viram outra saída senão a derrubada da monarquia. E em 15 de novembro de 1889 deram o golpe final e instalaram a primeira República do Brasil. Desde então, marcou o processo político brasileiro o que se tornou cultural, o golpismo. O golpismo é uma estranha forma de conturbação institucional que aflige o país de tempos em tempos. Pois, vivemos a ameaça permanente de uma ruptura institucional, sempre que uma crise política se instala. Não vou me alongar aqui, para descrever os vários golpes dados e as dezenas de tentativas, desde quando a nossa República foi instalada.       
Não precisamos recorrer ao passado distante para entender como é e como se cria um ambiente golpista. Vivenciamos os últimos quatro anos do governo Bolsonaro, desde de sua posse como presidente até a sua fuga de Brasília no final de 2022, falando em golpe, estimulando golpe até mesmo em seu auto exílio nos EUA, nada mudou do seu discurso golpista. Claro, que hoje, passados mais um mês da última tentativa golpista bolsonarista com a tomada das sedes dos Três Poderes, seguida de atos terroristas e vandalismos, podemos então tirar lições e conclusões se de fato Bolsonaro tinha reais condições de dar um auto golpe, ou se tudo não ia além de suas bravatas enigmáticas e desconexas. Para fechar esta questão, hoje fica claro que as Forças Armadas sem as quais não há como sustentar um golpe, não entrou na dele. Por outro lado, mesmo Bolsonaro contando com alguns generais e até mesmo com parcimônia de alguns quartéis que abrigavam golpistas acampados em seus portões, no fim das contas, deu no que deu, prevaleceu a sanidade no país. Hoje os golpistas bolsonaristas estão conhecendo o lado da lei que pune infratores.         
Agora podemos até imaginar a seguinte hipótese. Se o clima criado por Bolsonaro e de seus seguidores conseguisse o apoio unânime das Forças Armadas e policiais do país, mesmo assim, Bolsonaro não conseguiria concretizar o seu sonho de se tornar ditador. O seu sucesso em se eleger deputado por 28 anos e até presidente, não apagou a sua ficha de péssimo militar. E uma ditadura militar instalada não aceitaria um capitão como comandante geral, dando ordens em generais, brigadeiros e almirantes.  Bolsonaro sobreviveu como presidente até ao último dia de seu desgoverno devido a três fatores: o Congresso Nacional que manteve a permanência de Bolsonaro em troca do Orçamento Secreto e, portanto, nunca colocou o devido processo de impeachment na mesa. Até o STF que Bolsonaro tanto odeia, sequer solicitou ao Congresso que analisasse o impeachment. E o Procurador Geral da República, o senhor Augusto Aras sempre fez de conta que não tinha nada a ver com isso.       
Enfim, se não foi desta vez, no entanto, os democratas do país não podem esmorecer, temos razões para continuarmos alertas, porque os golpistas continuam por aí, aliás, muitos deles se elegeram para governadores, deputados e senadores.

ESDRAS AZARIAS DE CAMPOS é  Professor de História 
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