Opinião

Quase todos contra nós! 

12 de julho de 2025

Foto: Reprodução

Opinar ou analisar a atual conjuntura política brasileira é como cutucar com vara curta uma caixa de marimbondos. Qualquer opinião política instiga ódio, raiva e revanchismo. Contudo, é impossível não opinar ou deixar de exercer o sagrado direito de expressar livremente o que pensamos. Então, vamos lá falar da atual crise entre o Congresso Nacional e o STF, bem como entre o Congresso Nacional e o Governo Lula.

A atual crise é marcada por desentendimentos sobre o controle do orçamento e da pauta legislativa, além de uma evidente desconfiança mútua entre os poderes. É assim que a chamada “grande mídia” verbaliza a crise — com parcialidade — forçando a opinião pública a aceitar que a culpa recai sempre sobre o governo Lula.

A crise também se manifesta nas redes digitais, onde há um aumento nas críticas tanto ao Congresso quanto ao Governo, embora os focos dos ataques sejam distintos. Neste contexto político, evidencia-se há pelo menos uma década a expansão do poder das presidências da Câmara e do Senado, que passaram a controlar o orçamento e a pauta do Legislativo. O Centrão, dentro do xadrez político atual, não é protagonista. Essa é a avaliação da professora Andréa Freitas, coordenadora do Centro de Estudos de Opinião Pública da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A tese da Dra. Andréa é confirmada pelas ações do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que, no último ano do governo Bolsonaro, praticamente assumiu a administração da presidência da República, deixando o capitão Jair livre para coordenar o golpe que, felizmente, flopou.

A afirmação de que o atual Congresso Nacional é o pior da nossa história é tão verdadeira quanto foi a ruindade dos Congressos anteriores. Entra legislatura, sai legislatura, e o Congresso só piora. Isso ocorre porque o povo brasileiro não se preocupa em selecionar bons candidatos para a formação de um Legislativo mais qualificado. Além disso, a população ainda se deixa influenciar pela grande mídia, que concentra suas críticas no governo, mais do que nos deputados e senadores.

Hoje, podemos afirmar que se trata de mais uma legislatura antipovo. A maioria dos parlamentares é ligada aos grandes setores empresariais urbanos e ao agronegócio. Entre advogados e empresários, são cerca de 200 deputados — e no Senado a proporção se repete. Além disso, predominam as chamadas bancadas BBBB: a Bíblica, da Bala, do Boi e das Bets, que somam a maioria absoluta dos parlamentares. Soma-se a esse cenário o fato de que a maioria dos partidos representados no Congresso é de direita ou extrema direita, liderados pelo Partido Liberal de Valdemar Costa Neto e Jair Bolsonaro. Isso faz com que o Congresso atue majoritariamente em favor dos interesses dos grupos socioeconômicos mais ricos do país. Daí surgiu o brado do “nós contra eles” — mas será que, na verdade, não são “eles contra nós”?

Os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), começaram bem suas gestões. Reuniram-se com o presidente Lula, acertaram pautas em conjunto e assumiram compromissos com diversos projetos. No entanto, essa “parceria” entrou em rota de colisão quando a Câmara vetou o PL do IOF, forçando o governo a recorrer ao STF e, assim, ampliando a crise. Este embate entre Legislativo e Executivo promete novos capítulos, mas trouxe dois lances positivos não previstos pela oposição: escancarou a quem a maioria dos parlamentares realmente serve — e mostrou que os ricos não pagam impostos.

Chega a ser risível ver a Globo e outros órgãos da imprensa pedindo moderação nas redes digitais quanto aos ataques ao Congresso Nacional — algo que nunca fizeram quando os ataques eram direcionados ao governo Lula.

Nota final: O Congresso Nacional critica o governo Lula pelo suposto excesso de gastos na área social. No entanto, na maior cara de pau, aprovou, na semana passada, o aumento de mais 18 deputados federais, o que gerará um custo adicional de até R$ 150 milhões por ano para o Erário.


 
Esdras Azarias de Campos é Professor de História