Opinião

A beleza de ser quem se é

19 de maio de 2025

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho

Vivemos tempos em que muitos correm atrás de aprovação, de destaque, de um brilho que, por vezes, não nasce de dentro, mas da necessidade de parecer ser. Em meio a esse cenário apressado, resiste – com serenidade e força – a beleza de quem apenas é. Sem espetáculo, sem performance. Apenas é.

É uma grandeza silenciosa, que não busca holofotes nem se esconde nas sombras. Ela se revela no modo como alguém cumprimenta com gentileza, ouve com atenção, trabalha com esmero, fala com clareza ou simplesmente respeita o espaço do outro. São gestos simples que, quando brotam do coração, se tornam poesia viva.

Ser quem se é, com verdade, exige coragem. O mundo cobra máscaras, rotula, empurra para moldes prontos. Mas o ser autêntico recusa papéis que não lhe cabem. Vive em paz com sua história, sua bagagem, suas marcas e seus dons. Não por comodismo, mas por consciência.

Dessa consciência nasce uma força rara: a de saber o próprio lugar no mundo e ocupá-lo com inteireza. O sapateiro que entende do couro e do tempo. A professora que conhece o ritmo de cada criança. O lavrador que lê o céu e confia na terra. O locutor que doma a palavra e emociona com a voz. O médico que enxerga além do sintoma e cura com o toque e a escuta. O advogado que, diante da injustiça, levanta-se firme em defesa do justo, mesmo quando tudo parece perdido. Cada qual no seu ofício, com seu dom, em sua missão.

A beleza está em aceitar a própria singularidade, não como limite, mas como luz. Ninguém precisa ser outro para ser grande. Basta ser inteiro. E isso, quando acontece, transforma o ambiente – como uma pedra bem colocada no leito do rio: silenciosa, mas essencial à correnteza.

Há algo de profundamente humano nesse reconhecimento. Quando nos permitimos ser quem somos – e deixamos o outro ser também – nasce um espaço de encontro verdadeiro. Um lugar onde as diferenças não se anulam, mas se completam. Onde a diversidade não é ameaça, mas força.

É assim que a sociedade se aprimora: quando deixamos de lado a pressa de julgar e passamos a valorizar. Quando trocamos o desejo de dominar pelo gesto de acolher. Quando a vaidade cede lugar ao respeito. E então, enfim, podemos ver uns aos outros não como adversários, mas como companheiros de travessia.

A beleza de ser quem se é mora, justamente, na certeza de que cada dom é luz – e nenhuma brilha mais do que a outra. Há encontros. Há colaborações. Há um fio invisível que nos liga, nos sustenta e nos eleva, quando cada um faz a sua parte com amor e verdade.

E assim, no compasso dos nossos dons, seguimos juntos, compondo a vida com beleza. Que a autenticidade nos inspire a encontrar alegria nas pequenas coisas e a reconhecer a luz que brilha em cada um de nós. Afinal, é na simplicidade dos gestos que se revelam os mais preciosos laços verdadeiros e conexões profundas.

         Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho é advogado e cronista.
(
luizgfnegrinho@gmail.com)