6 de maio de 2025
Foto: Reprodução
J. R. Guzzo
O roubo do pobre dinheirinho dos aposentados do INSS através de descontos ilegais em seus pagamentos e desvio para o cofre dos sindicatos, um episódio sórdido demais até para os padrões do presidente Lula, tem tudo para acabar como em geral acabam os casos de corrupção dos governos do PT. Em primeiro lugar, Lula levou um tempo inexplicável para demitir o suspeito-estrela da ladroagem – o ministro Calos Lupi, da Previdência Social, criado neste governo justo para “cuidar do INSS”. Em seguida, nomeou para o cargo um sub-Lupi, que tem tudo para se sair ainda pior que o original. Antes e depois, já saiu contando a agressiva lorota de que não era culpa deles, pois a coisa já tinha começado nos governos Temer e Bolsonaro.
Acredite se quiser, foi isso mesmo: o PT, o “estamento intelectual” e a grande mídia chapa-branca que serve como departamento de propaganda do governo Lula, sustentam em público que roubar passa a ser lícito quando o roubo é feito pela “esquerda”, ou compreensível, ou desculpável. Só tem de ser reprovado quando tem impressão digital dos “adversários”. Pior: nos dois anos e pouco de governo Lula, o assalto aos aposentados do INSS simplesmente explodiu. Jamais se roubou alguma coisa com tanta voracidade, selvageria e falta de escrúpulo.
“No Brasil ‘recivilizado’ de hoje, o irmão do presidente da República é suspeito de roubar vulneráveis e o governo finge que não aconteceu nada. Como a mídia não fala do caso, e menos ainda do irmão, o governo acha que não está acontecendo nada”
Outro ponto marcante da reação de Lula ao escândalo foi a recusa do governo, vocalizada pelo ministro Haddad e outros feitores da chamada “área econômica”, de devolver o dinheiro roubado dos aposentados – roubo cometido com a responsabilidade direta do Estado, via INSS. É como se funcionários do Bradesco ou Itaú desviassem dinheiro da sua conta corrente, e a diretoria dos bancos dissesse que não tem nada a ver com isso. Já vieram até com um projeto de lei, claramente abjeto, estabelecendo que o dinheiro que os sindicatos roubaram deve ser pago pela população em geral.
Lula, até agora, não disse uma sílaba sobre a horrorosa constatação de que o seu próprio irmão, vulgo “Frei Chico”, está metido até o talo na roubalheira no INSS – um dos sindicatos do seu portfólio recebeu 550% a mais, agora, do que faturava cinco anos atrás com os descontos criminosos em cima dos aposentados. Seria a primeira questão a ser respondida por ele, mas até agora não foi: no Brasil “recivilizado” de hoje, o irmão do presidente da República é suspeito de roubar vulneráveis e o governo finge que não aconteceu nada. Como a mídia não fala do caso, e menos ainda do irmão, o governo acha que não está acontecendo nada; só um ajuste de rotina no ministério, não mais.
Não se ouviu, por outro lado, nem um pio dos ministros Alexandre de Moraes, Flávio Dino ou Barroso, dando 48 horas para Lula explicar que roubo no INSS é esse, e o que o seu irmão está fazendo nele. Não chamou a mínima atenção das autoridades repressoras também o caráter hediondo do crime. O dinheiro desviado para o bolso dos sindicalistas era tirado, de propósito, dos aposentados mais pobres, mais analfabetos, mais desprovidos de informações, mais isolados, porque estes eram os que tinham menos condições de perceber que estavam sendo roubados.
É um retrato perfeito desse regime de malfeitores que manda hoje no país e faz de conta que é uma “democracia” empenhada em luta heroica contra o “fascismo” – gente que queria dar um golpe com estilingues, bolas de gude e um batom, e não pode ter anistia pelos crimes que não cometerem.
J. R. GUZZO é jornalista