12 de dezembro de 2024
Vinícius e familiares que trabalham na queijaria Faz o Bem Orgânicos / Foto: Divulgação/Nereu Jr
Leonardo Natalino
PIUMHI – Piumhi tem o primeiro queijo minas artesanal orgânico certificado no estado. O alimento é produzido pela queijaria Faz o Bem Orgânicos, localizada à beira do ribeirão Araras, na zona rural do município, e leva o selo Orgânico Brasil, tornando-se também o primeiro queijo canastra orgânico.
Segundo Vinícius Soares, proprietário da queijaria, a certificação para o queijo orgânico é burocrática e segue diversos parâmetros definidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
“Não podemos nos autodeterminar produtores de orgânico. No Ministério da Agricultura tem uma portaria que descreve tudo o que pode e o que não pode ser utilizado. Para a qualificação, uma certificadora acompanha todo o processo e valida junto do ministério”, diz.
De acordo com o produtor, o que define o queijo que ele produz como orgânico é a ausência do uso de produtos químicos externos durante todo o processo de produção do alimento, desde a fertilização do capim consumido pela vaca até a capina da vegetação.
“Por exemplo, para o milho que plantamos foi utilizado o próprio esterco da vaca como adubo. Não podemos utilizar fertilizante químico. A capina é feita do modo antigo, com o cultivador passando. Não usamos veneno, como é feito no método convencional”, explica Soares.
“Não plantamos transgênicos. Inclusive, o milho que plantamos é crioulo. A nossa pastagem é integrada com agrofloresta, justamente para ter uma variedade maior de alimentos que compensem o fato de não podermos utilizar o farelo de soja que, hoje, é 100% transgênico”, completa.
Seguindo esses procedimentos, o produtor garante que não há risco de o consumidor ingerir algum resquício de antibiótico ou fertilizante, ou algo que possa contaminar o alimento.
Além disso, Soares explica que o método de produção de queijo artesanal orgânico é essencial para a diferenciação do sabor do produto em relação aos outros queijos minas artesanais.
“Um produtor que joga ureia na pastagem, como fertilizante, mata metade das bactérias que tem ali. E isso interfere no resultado do queijo que será produzido, já que as bactérias têm papel fundamental no processo”, afirma.
“A gente trabalha com as vacas com fitoterapia, homeopatia e mais vacinas do que o convencional. É um trabalho que não é fácil, principalmente por conta da parte burocrática, por isso não há muitos produtores de queijo orgânico artesanal”, completa.
Segundo Soares, a certificação da produção foi feita pelo Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural (IBD), no início de 2023.
Queijos variam de 150 gramas a 8 quilos
Os queijos produzidos por Vinícius Soares são zero lactose naturalmente, ou seja, sem a adição de enzimas que realizam a quebra do açúcar presente no leite. “Por ser feito com leite cru e fermento natural, no processo de maturação é degradado naturalmente a lactose. No industrial, é adicionado lactase para degradar. O nosso é natural”, afirma.
De acordo com o produtor, o Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), campus Piumhi, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), realizou uma pesquisa com os queijos da Faz o Bem Orgânicos e foi descoberto que são necessários 10 dias de maturação para que eles se tornem zero lactose.
1º Lugar
Em novembro deste ano, a Faz o Bem venceu o 1º Concurso Regional de Queijo Casca Florida, promovido pela Emater, em São Roque de Minas. “Ficamos em primeiro lugar no meio de mestres nossos, como o queijo do Evair, do Serjão, do Pingo de Amor, da Lucilia. O nível do concurso foi realmente muito alto”, diz Vinícius.
O 2° lugar ficou com a produtora Maria Lucilha de Faria, da fazenda Pingo de Amor, de São Roque de Minas, e em 3° lugar Larissa, da Barão da Canastra, também de Piumhi. Todos associados da SerTãoBras.
A competição ocorreu cerca de cinco meses após o Governo de Minas regulamentar a identidade e qualidade para produção do queijo minas artesanal de casca florida natural. A medida foi anunciada pelo vice-governador, Mateus Simões, durante a abertura da sexta edição do Festival do Queijo Artesanal de Minas Gerais, no Expominas, em Belo Horizonte.
Em setembro de 2022, a queijaria de Vinícius conquistou dois prêmios no Mundial do Queijo do Brasil, em São Paulo: medalha de prata, com queijo maturado de 30 dias, e de bronze, com queijo de 60 dias de cura.
Produção
O produtor relata que são produzidos cerca de 200 litros de leite e cerca de 20 queijos por dia. O tamanho dos queijos varia entre 8 quilos, que necessita de 90 litros de leite para produzir, e 150 gramas, que utiliza apenas um litro.
O menor, de 150 gramas, é o queijo Tardezinha, que leva esse nome por ser feito com o leite da tarde. Segundo Soares, o leite tirado das vacas no fim da tarde tem maior quantidade de sólidos (proteínas e gorduras), o que resulta em um queijo mais cremoso.