Opinião

Espelunca

30 de outubro de 2024

foto: reprodução

Washington L. Tomé de Sousa

Do latim spelunca (ae) ‘caverna, antro, gruta, cova’, do grego spêlugks (Dic. Oxford).

A palavra “espelunca” pode ter vários significados, entre eles: Cavidade no solo, cova, covil, toca. Lugar onde bandidos se escondem, antro, esconderijo, valhacouto. Casa suja, caótica, desorganizada, baiuca, biboca, tugúrio. Qualquer lugar escuro, sujo e mal frequentado. Botequim de baixo nível, pé-sujo. Casa de jogo de baixa categoria, ilícita e geralmente escondida, jebimba.

Seguem alguns recortes de jornais e de notícias atuais em mídias sociais:

“Em recentíssima decisão, Gilmar Mendes (STF) anula condenações de José Dirceu na Lava Jato” (UOL).

“Cinco magistrados (desembargadores – TJMS)) alvos da Operação Última Ratio usavam escritórios de filhos e empresas para disfarçar corrupção: PF apreende milhões” (sbtNews).

“Com ajuda do TJ, conselheiro do TCE-MS se apossou de duas fazendas” (Correio do Estado).

“Grilagem de terras, corrupção e agiotagem estão na lista de crimes destacados na decisão que levou ao afastamento de três juízes em Porto Seguro, no extremo sul da Bahia. Os magistrados foram alvos de decisão unânime do Tribunal Pleno do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA)” (g1 Bahia).

“A Operação Faroeste apura um esquema de venda de decisões judiciais para grilagem de terras no oeste da Bahia. A ação começou no final de 2019, com a prisão de quatro advogados, o cumprimento de 40 mandados de busca e apreensão e o afastamento de seis magistrados, entre eles o presidente do TJ-BA da época” (g1 Bahia).

“TRE diz que 12 suspeitos de elo com crime organizado foram eleitos em SP” (UOL).

“Complexo de Israel: comunidades do RJ têm traficante que persegue quem não pratica sua religião; vídeo mostra freira sendo agredida” (g1 Fantástico).

“’Narcopentecostalismo’ – não apenas o surgimento de traficantes que se declaram evangélicos, mas a forma como isso influencia a atuação das facções na disputa por territórios no Rio de Janeiro” (g1 Rio de Janeiro).

“Preso preventivamente desde março, o ex-chefe da Polícia Civil do Rio Rivaldo Barbosa é suspeito de ser o mentor intelectual dos assassinatos de Marielle e Anderson, crime que, segundo a Polícia Federal, foi planejado pelos irmãos Brazão. As investigações da PF apontam que Barbosa usou a autoridade como chefe de Polícia Civil para oferecer garantia necessária aos autores intelectuais do crime de que todos permaneceriam impunes” (O Globo).

O rol de absurdos e de surrealidades noticiados diuturnamente neste nosso brasilzão é infindável e seria cansativo continuar elencando outros aqui neste artigo. Os já expostos são suficientes para ilustrar bem o antro, em que valhacouto (pra quem não está habituado a esta palavra arcaica, só a sua escrita ou pronúncia já denuncia que não é coisa boa) estamos metidos.

 

Pra descontrair

Tempos atrás li crônica no Estado de Minas em que um grupo de amigos mineiros, em visita à Alemanha, se dirige a um bar na expectativa de tomar uma boa cerveja alemã, servida naqueles canecões de 1 litro, e degustarem daqueles salsichões como petisco. Ao adentrarem ao bar, o mais espirituoso do grupo, insatisfeito com o local, fala em alto e bom som, em português: – mas que espelunca em que viemos nos meter. Imediatamente, o proprietário do local se dirige ao grupo e os bota pra fora do estabelecimento, com todo aquele rigor germânico, aos berros de ‘hier haus, hier haus’ (fora daqui, fora daqui). Mais tarde, já fora do bar, foram descobrir o porquê desta reação irada do alemão: é que a palavra espelunca em português e em alemão, bem como a sua pronúncia, é praticamente a mesma em ambos os idiomas.

 

Cuide da sua vida e do seu entorno

Será que você está querendo ser tratado de modo diferente? Não espere isso. Eu farei a desgraça cair sobre toda a humanidade, mas você pelo menos escapará com vida, esteja onde estiver. Eu, o Senhor, falei.” (Jr. 45:5)

Ecoam nos dias atuais estas palavras de advertência e de conforto, escritas há mais de dois mil e seiscentos anos e dirigidas a alguém angustiado e perplexo, que ansiava por coisas melhores e que, sentindo-se impotente, lamentava-se e clamava pela intervenção divina diante de tanta injustiça, violência, corrupção e desesperança.

Seja você quem for, e que não se conforma com o status quo em que estamos metidos, que almeja por justiça e paz, saiba que a sua vida e a sua consciência estão postas diante de tudo isso como privilégio, esteja onde você estiver, para fazer a diferença, sabendo que, se você não pode mudar o mundo, tem a responsabilidade de, pelo menos,  começar por você mesmo e pelo seu entorno próximo (família, amigos, trabalho…).

Saúde e paz a todos!

WASHINGTON L. TOMÉ DE SOUSA, advogado, ex-diretor da Justiça do Trabalho em Passos, escreve quinzenalmente às quartas, nesta coluna