PIUMHI – A Câmara de Piumhi aprovou, por unanimidade, o Projeto de Lei 48/2023 que cria a Área de Preservação Ambiental (APA) Serras e Águas de Piumhi, na noite da última segunda-feira, 23. A iniciativa é de autoria da Mesa Diretora do Poder Legislativo e aguarda sanção do Executivo. 

“Um dia muito feliz para Piumhi. Um dia para celebrar. Mais de um ano de trabalho para demonstrar as riquezas de Piumhi, que a maior riqueza não está debaixo da terra, não é minério. Se a gente estragar toda a terra para tirar o minério, toda a beleza que está em cima, todos os animais, todas as plantas, a gente não recupera nunca mais”, afirma o coordenador técnico do movimento Amigos do Araras e da Belinha, Igor Messias da Silva. O movimento foi criado em 25 de março de 2023 em protesto à instalação de uma empresa que iria explorar minério de ferro nas serras de Piumhi.  

“E hoje Piumhi deu uma lição para Minas Gerais, para o Brasil, de que o povo do lugar tem legitimidade para defendê-lo”, completou.  

“Tal proibição se justifica pelo estudo técnico apresentado e foi inspirado em um caso muito semelhante ocorrido no município de Caldas, no Sul de Minas, onde uma APA que proibia mineração foi criada e as mineradoras tentaram derrubar a proibição de mineração na justiça”, explicou Igor. 

No PL aprovado pela Câmara, está prevista a implementação da APA com o objetivo proteger as áreas de recarga hídrica dos mananciais de abastecimento público de Piumhi, o patrimônio arqueológico, a qualidade do ar, a beleza cênica dos pontos de ecoturismo, e a qualidade ambiental para as futuras gerações. 

De acordo com o movimento Amigos do Araras e da Belinha, a APA deverá abranger 11.956 hectares, o que representa 73,7% da vegetação nativa de Piumhi. Alguns dos pontos presentes na área são: Cachoeira da Belinha, Cachoeira do Nenzico, Mirante da Belinha, Mirante da Onça, Poço do Cipó e Poço dos Gogas. 

Ainda no PL, é prevista a proibição de algumas práticas na área delimitada, como a exploração de minérios, construção de obras ou empreendimentos que alterem os sítios arqueológicos e atrativos turísticos, e caça ou atividade que afete a fauna. 

Nova espécie 

Noticiado pela Folha da Manhã em março deste ano, um grupo de pesquisadores de universidades mineiras que realizou estudos na vegetação de Piumhi descobriu uma nova espécie de girassol no município. O mapeamento foi realizado como um dos processos previstos para a criação da APA Serras e Águas de Piumhi. 

Silva foi quem convidou os pesquisadores para a tarefa. A descoberta da nova planta foi um dos fatores que definiu a aprovação do projeto de lei que prevê a criação da unidade de proteção. 

“Além da planta, a gente encontrou uma espécie de peixe ameaçada de extinção, a Pirapitinga. Tem também uma espécie de pássaro ameaçado de extinção, o Papa-moscas-do-campo. Grandes mamíferos ameaçados de extinção, como Tamanduá-bandeira. Tudo isso gera uma importância muito grande para que se crie a área de proteção ambiental”, afirma. 

O biólogo João Luís Lobo, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que participou do estudo, revela que a nova planta encontrada ainda não foi catalogada e pertence à família dos girassóis. Também foram encontradas cinco espécies de plantas em risco de extinção e que existem apenas na Serra da Canastra. 

“Da mesma espécie do girassol. Uma planta completamente desconhecida pela ciência, que vai ser dado um nome, vai ser registrado e passará a ser uma espécie válida. Essa planta vai ser categorizada, na sua própria descrição, como criticamente ameaçada, dado o risco de a mineração destruir essas áreas, e também da área de ocorrência muito limitada (menor que 12 km²)”, afiram Lobo. 

“Encontramos cinco espécies que também ocorrem em Piumhi. A diferença é que em Piumhi ainda não são protegidas. Então as espécies estão ameaçadas, elas só existem em um lugar no mundo (Canastra)”, completou. 

Apoio 

Igor Messias afirma que o apoio da população de Piumhi foi essencial para a aprovação do PL. “Sem eles não chegaríamos a essa vitória. Uma vez que é necessário a participação da população no processo político, não só na hora do voto. A população lotou a Câmara Municipal todas as vezes que foi necessário”, disse. 

Na última semana, o ator Marcos Palmeira, conhecido pela atuação em novelas como Pantanal e Renascer, demonstrou apoio ao movimento Amigos do Araras e da Belinha. Em publicação do grupo no Instagram, o ator comentou “Estamos juntos nessa luta!”.