22 de agosto de 2024
Foto: Reprodução
Fogo na Amazônia bate recorde
A Amazônia está queimando mais neste ano, mesmo com o desmatamento em queda. Mais de 43 mil focos de fogo já foram detectados, pior índice desde 2007 no bioma para o período de 1º de janeiro a 20 de agosto, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O número é quase o dobro do registrado nesse intervalo em 2023. Normalmente atrelado à perda de cobertura vegetal, o fogo tem se espalhado mais cedo e por áreas não desmatadas. Agrava a situação a seca iniciada em 2023, intensificada pelo fenômeno El Niño e pelas mudanças climáticas. “É preocupante porque continua uma condição hídrica e climática em que a paisagem está muito inflamável. Qualquer início de queimada pode virar incêndio”, disse ao Estadão a diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Ane Alencar. Ela lembra que o fogo natural é um evento raro na floresta devido à vegetação úmida.
Focos
Nas primeiras semanas de agosto, foram tantos focos (18.268 até o dia 20) que a fumaça encobriu o céu de Manaus e de outras cidades amazônicas, colocando o Brasil na posição de 5º país com o ar mais poluído do mundo. Outras regiões, como o Pantanal, também tem registrado alta de incêndios, com o espalhamento de fumaça em vários Estados. As partículas derivadas das chamas não afetam só a saúde de moradores da Região Norte, mas impactam diretamente a qualidade do ar em São Paulo, como mostra estudo publicado em 2023 por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen).
Dobra
A área queimada da floresta também praticamente dobrou em comparação com o ano anterior. Até o mês passado, 3.395.971 hectares foram atingidos pelo fogo no bioma, ante 1.569.735 hectares de janeiro a julho de 2023, segundo a plataforma Monitor do Fogo do Mapbiomas. De acordo com Ane, o fogo atinge agora principalmente o sul do Amazonas, a região da Transamazônica, o norte de Rondônia, o sudoeste do Pará, e a Terra do Meio. O possível descolamento entre os processos de desmatamento e queimadas no bioma foi sinalizado por nota técnica produzida por pesquisadores do Ipam, da Nasa, agência espacial americana, e da Universidade Yale (EUA) divulgada em 28 de junho.
Padrões
O estudo identifica mudanças significativas nos padrões de incêndios na Amazônia ao longo de 2023, assim como na distribuição espacial da área queimada. Municípios onde houve maior queda de desmate também registraram redução da área queimada, mesmo durante a seca. Isso indica que o elo entre destruição da cobertura vegetal e fogo persiste no bioma, segundo Ane Alencar. Mas, conclui o estudo, o combate ao desmatamento não tem sido mais suficiente para evitar as chamas.