Opinião

Intenção e atitude!

22 de maio de 2024

Foto: Reprodução

WASHINGTON L. TOMÉ DE SOUSA

 

“Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.”

(Fernando Pessoa)

 

Neste momento trágico pelo qual passam os nossos irmãos do Rio Grande do Sul, em que um verdadeiro dilúvio desaguou sobre aquele Estado, com todas as suas consequências funestas e catastróficas, quero trazer aqui, por meio dos versos do grande poeta português e deste breve artigo, a nossa solidariedade a este bravo povo, que saberá, assim como já o fez em vários eventos desafiadores da sua rica história, “passar além da dor” e se reerguer.

Lembro aqui, a propósito, de história vivida por um pai que, muito feliz com as notas que a filha tirara na escola, resolveu levá-la a um shopping center e, diante de uma vitrine de uma loja de artigos femininos de marca de prestígio, presenteá-la com o que ela quisesse escolher, tendo recebido, como resposta, algo que o marcou indelevelmente: “Não quero nada, pai. Estou feliz só de estar com vocês aqui, em família”.  Diante disso, quem ‘ganhou o presente’ foi o pai, que, comovido com a atitude da filha, mesmo assim, não deixou de presenteá-la.

“Tudo vale a pena, se a alma não é pequena”

Diante do momento grave pelo qual passa o povo do Rio Grande do Sul, observa-se que a interminável polarização política que vivemos como nação ameaça contaminar a questão do socorro às vítimas daquela catástrofe e àquele ente da federação, acrescentando mais um problema, em vez de facilitar a solução.

O momento não é o de capitalizar politicamente em cima da desgraça alheia, seja o Governo Federal, com a sua ação ou inação, seja a sua oposição, com acusações as mais variadas, ou, ainda, os meios de comunicação muitas vezes por ambos manipulados, visando interesses político-partidários, econômicos e de poder, quando o que releva é a real intenção de socorrer aqueles nossos irmãos e aquele Estado.

Não se pode exigir solução imediata, pois a tragédia a ser enfrentada é dantesca, mas a motivação que reveste as ações por parte do Estado, que estão sendo e que serão tomadas, não será esquecida. O povo saberá identificar e retribuir. De igual forma, o auxílio prestado pelos particulares, quer sejam pessoas físicas, quer sejam pessoas jurídicas, não se valoriza pelo propósito de promoção pessoal, mas sim pela via da solidariedade, lembrando, por oportuno, as palavras de Cristo: “Mas, quando você der esmola, que a sua mão esquerda não saiba o que está fazendo a direita” (Mateus 6:3).

Reservo o espaço em branco que se segue, como ‘minuto de silêncio’, em respeito àqueles que partiram e aos que sofrem com esta tragédia.

Saúde e paz a todos!

WASHINGTON L. TOMÉ DE SOUSA, escreve quinzenalmente às quartas, nesta coluna