9 de maio de 2024
Foto: Reprodução
Entenda as chuvas do Sul
Os fortes temporais que castigam o Rio Grande do Sul neste início de maio são provocados pela presença de uma massa de ar fria que vem do sul (Argentina) e se estacionou sobre o Estado gaúcho por causa da presença de uma massa de ar seco e quente que se estabeleceu no Centro do Brasil – a mesma que vem provocando as ondas de calor nos Estados do Centro-Oeste e Sudeste do País. Como esse bloqueio tem impedido a passagem da massa de ar fria, a região que fica abaixo dessa massa acaba sofrendo com a intensa instabilidade e com uma precipitação constante, explicam os meteorologistas da MetSul.
Por que alagou tanto?
Parte da chuva semi-estacionária aconteceu sobre a Serra e os Campos de Cima da Serra, regiões de nascentes de grandes rios do Estado, como Taquari e Caí, que também registraram cheias históricas. Conforme o professor Fernando Mainardi Fan, pesquisador do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a capital Porto Alegre também sofreu com as cheias do Guaíba por estar posicionada geograficamente abaixo de outras regiões e rios importante do Estado. “Então, sempre que dá uma grande chuva na região central ou noroeste do Rio Grande do Sul, essas águas descem em direção ao Guaíba, elevando os níveis”, disse. Neste caso, aconteceram chuvas extremas na região central do Estado, o que fez com que os níveis se elevassem de forma muito acentuada no Guaíba.
Estruturas
Motivos estruturais também explicam as cheias sem precedentes, como o rompimento de barragens, transbordamento de diques de proteção, e a incapacidade de bombas de sucção de realizarem todo o trabalho de escoamento da água. O sistema antienchente da capital gaúcha chegou ao limite, e uma das consequências dessa limitação é o refluxo de água pelos bueiros que também intensificam os alagamentos das vias.
Por que o Estado é mais atingido?
O Estado fica em uma região onde acontece o encontro entre sistemas polares e tropicais, isto é, entre o ar quente e o ar frio, que faz do Estado um berço para fenômenos climáticos. Mas os especialistas alertam também que as particularidades da região são potencializadas por outros dois fatores: o El Niño, fenômeno vigente desde meados de 2023, que contribui para o aumento das temperaturas do planeta; e também as mudanças climáticas, provocadas pelo aquecimento global, e que vem tornando esses eventos mais frequentes com o passar do tempo. Segundo um levantamento do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o número de dias com extremos de precipitação (acima de 50 milímetros) aumentou em Porto Alegre a cada década desde os anos 1960. Foram 29 dias, entre 1961 e 1970; 44 dias em 2001 e 66 dias entre 2011 e 2020.